08 março 2012

AS CONDECORAÇÕES DO FASCISTA E DA TERRORISTA

Ainda a propósito de Francisco Rolão Preto (1893-1977), que considero o verdadeiro rosto do fascismo durante o período do Estado Novo, leio na sua biografia da Wikipedia um pormenor que desconhecia: que Mário Soares, enquanto Presidente da República, o condecorou em 1994, a título póstumo, com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique pelo seu entranhado amor pela liberdade O agraciado tem os seus méritos como opositor ao Estado Novo, mas havemos de concordar que a farda, a braçadeira e sobretudo o bigode curto(…) da fotografia mais acima nos dificulta a tarefa de o conceber como um democrata apaixonado pela liberdade… Aliás, sabiamente, o presidente escolheu uma outra condecoração que não a da Ordem desse mesmo nome (Liberdade) para evitar equívocos.
Dez anos passados, o seu sucessor Jorge Sampaio pareceu mostrar que a sabedoria se perdera e que no seu tempo já não se percebia nada dessas diferenças subtis entre as evocações da liberdade e a outorga de condecorações da Ordem com esse nome, quando da atribuição de uma a Isabel do Carmo (1940?- ), a antiga dirigente histórica do Partido Revolucionário do Proletariado – Brigadas Revolucionárias.
Não estando de modo algum em causa as capacidades de quem conferiu a distinção nem as qualidades da distinguida, ressalve-se uma enorme falta de tacto do primeiro ao escolher-se um grau da Ordem da Liberdade. Como a farda, a braçadeira e o bigode de Rolão Preto, também os comunicados, cartazes e acções a que associamos Isabel do Carmo nunca farão dela um exemplo da democrata apaixonada pela liberdade

4 comentários:

  1. Será este um exemplo da ética republicana?

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  2. Não lhe sei responder porque, sabendo o que é ética, não sei o que é a ética republicana; o que a distingue da ética monárquica, por exemplo?

    O adjectivo republicano parece-me aqui empregue como uma excrescência, como aquele relator de futebol que, no Europeu de 96, insistia em apresentar os nossos adversários como os "republicanos checos". Será que ele estava convencido que havia uma outra selecção concorrente de "checos monárquicos"?

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  3. Por vezes, um determinado percurso político faz com que se esqueça toda uma carreira anterior. No apoegeu do nacional-sindicalismo, o jornal oficial do movimento (editado por António Pedro, mais tarde um importante nome do surrealismo), chefiado por Rolão Preto, regozijava-se pela subida ao poder de Hitler como chanceler da Alemanha. Mas como Salazar dissolveu o movimento, Rolão passou a fazer parte da oposição e apoiou mesmo a candidatura de Humberto Delgado à presidência - na foto do discurso de lançamento de Delgado, aparece junto a Aquilino Ribeiro. Devia ser daí que soares o conhecia. Depois teve um percurso discreto e acabou no PPM.
    Quanto a Isabel do Carmo, hoje uma simpática médica qu aparece em programas da TV, a essa não lhe consigo mesmo descobrir currículo de "defesa da liberdade".

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  4. Conheço a fotografia que refere mas, é engraçado, nunca lá identifiquei Rolão Preto. Mas também, depois de rapar aquele bigodinho castiço (fora de moda em 1958...), perde-se a maior parte da personalidade, não é verdade?

    Além disso, creio que ao caso de Rolão Preto se aplicará precisamente a mesma lógica que deve ser aplicada aos comunistas: um currículo de oposição ao regime de Salazar não é sinónimo de um currículo de "defesa da liberdade". Sabe-se o que, em podendo, todos eles teriam feito das liberdades...

    Quanto a Isabel do Carmo, digo-lhe que vale a pena ler a entrevista que está linkada. Há lá momentos verdadeiramente surrealistas, a propósito da sua referência a António Pedro.

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