O SELO ANGOLANO

Entre as muitas verdades evidentes que ouvimos por aí repetidas sem se pensar no seu conteúdo, conta-se a do carácter instrutivo da filatelia. Como a maioria dessas evidências que são promovidas a lugares comuns da conversação, esta é mais outra treta: os selos, por si sós, pouco nos instruirão. O que pode acontecer é que o conteúdo de um selo poder-nos-á despertar a curiosidade que nos leve a investigá-lo – noutros sítios, porque um selo, pela sua dimensão, é sempre parco em informação. Mas o que é essencial é a nossa atitude curiosa e não o selo, veja-se o que se pode extrair deste exemplar angolano, mesmo não se tratando de um filatelista a interpretá-lo.

Trata-se de um selo de correio aéreo angolano, não usado, da época de transição de soberanias, de data anteiror à da independência de Angola (11 de Novembro de 1975), mas que continuou em circulação depois dela: o destaque temático ainda vai para o Boeing 707 da TAP e a tipografia onde o selo foi impresso situava-se na Maia, mas nota-se a grande tarja negra que cobrirá uns dizeres que são agora substituídos por outros REPÚBLICA POPULAR DE, que foram nitidamente carimbados à posteriori. Aliás, o ano de edição do selo situar-se-á nos princípios da década de 1970: não só há uma referência ao centenário do selo 1870-1970, como o Fokker F-27 das linhas aéreas angolanas que se vê ainda apresenta as pinturas da DTA, antes da companhia mudar a sua designação para TAAG (1973). Quanto ao fim do seu período de validade também será fácil de estabelecer: estando o seu preço ainda marcado em escudos (2$50), é improvável que ele possa ter ultrapassado Janeiro de 1977, data em que Angola mudou a sua moeda para o kwanza – situação que faria com que o selo recebesse certamente mais outra carimbadela anti-colonial… Por isso, o site de leilões que o anuncia e que o data de 1980 estará, muito provavelmente, errado. Por curiosidade, junto a versão original (pré-independência) do mesmo selo, mostrando aquilo que fora apagado: os dizeres REPÚBLICA PORTUGUESA.