09 outubro 2006

VIDAL SASSON

Eu até posso perceber que estejamos numa fase em que convenha à França arranjar todos os pretextos que lhe for possível para empatar o processo de adesão da Turquia à União. Uns conflitozitos, a pretexto de causas menores virão mesmo a calhar para que a França se escuse mais uns tempos a afirmar aquilo que realmente pensa da presença da Turquia na União Europeia: Não!

O que não quer dizer que tudo valha nos subterfúgios que ela arranja para provocar a reacção turca. Agora, como se pode ler no Público, trata-se de fazer aprovar uma lei que criminaliza com uma pena que pode ir até um ano de prisão e 45 mil euros de multa quem se atrever a negar o genocídio que as autoridades otomanas perpetraram em 1915 contra os arménios. E os turcos afinaram.

É o tipo de notícia que faz lembrar, para a prepotência e o disparate, o princípio do Vidal Sasson que, se bem se recordam, era champô e amaciador, os dois num só! Em abstracto, considero ser um disparate sancionar quem quer que seja pelas opiniões que emite. É o tipo de liberdade que dificilmente deixo de considerar absoluta, seja em referência a negar o genocídio arménio, a negar o Holocausto ou mesmo a negar qualquer vislumbre de bom senso como acontece normalmente com os postes do João Miranda no Blasfémias…

O amaciador surge quando se enquadra o episódio nos seus intervenientes, onde há um país ocidental, que se indigna – muito justamente – quando há muçulmanos que procuram condicionar a sua própria liberdade de expressão mas que aprova legislação conducente a condicionar a liberdade de expressão sobre um episódio negro da história de outro país – predominantemente muçulmano!

Esclareça-se que a minha opinião é completamente condenatória do comportamento das autoridades otomanas em 1915, bem como das suas responsabilidades pelos 300 mil (ou milhão e meio...) mortos*. Só que assim, qualquer exercício condenatório que o estado francês pretenda manifestar no que respeita às coacções exercidas pelos religiosos islâmicos por ocasião do episódio das caricaturas dinamarquesas será perfeitamente dispensável, por falta de qualquer moralidade para o fazer.

Um comentário final para o título escolhido para a notícia do Público: Turquia ameaça França com boicote económico. Depois de nos apercebermos do conteúdo da mesma dá mesmo vontade de ironizar: porque é que a Turquia se teria lembrado de reagir assim? E, veja-se lá, esta notícia tem todo o aspecto de assim ter sido concebida na origem (francesa) e aqui apenas traduzida, nada daquelas conspirações nacionais de que José Pacheco Pereira tanto gosta…

* Embora as causas para tal número de mortos, ouvida a parte otomana (turca), sejam completamente distintas das políticas deliberadas de extermínio do Holocausto da 2ª Guerra Mundial.

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