16 outubro 2006

O GRANDE PORTUGUÊS

Estou desconfiado que uma das inúmeras razões do azedume proverbial de Vasco Pulido Valente resulta de ninguém o tratar como ele gostaria de ser tratado: três iniciais e um apelido à boa maneira de um reputado historiador britânico dos meados do século passado, na linha de A.H.M. Jones, J.F.C. Fuller ou o A.J.P. Taylor, cujo estilo narrativo, aliás, ele tanto gosta de imitar.

Entretanto, depois da era da Tatcher, aquela mulher horrorosa, que tudo isso mudou e os nomes que agora são mais conhecidos no ramo - que até escrevem para jornais, os desqualificados – revelam-se de um plebeísmo e de uma banalidade de elaboração que são insuportáveis, como Niall Ferguson ou Timothy Garton Ash. Bonito, bonito, era passarmos a ter o Vasco a ser tratado entre nós por V.P.V. Guedes.

Lembrei-me disso por causa dos comentários do V.P.V. Guedes fez, na sua última crónica de Domingo no Público, a respeito do programa da RTP Os Grandes Portugueses, concurso onde só agora descobri que não se pode escolher livremente em quem se vota, o que é mesmo lamentável. Porque, garanto-vos, o meu voto iria direitinho para o autor da crónica.

Não por causa da sua complexa análise sociológica que o leva a profetizar que o resultado final do concurso vai dar Amália Rodrigues ou Afonso Henriques, nem por causa da imemorável prestação de V.P.V. Guedes enquanto foi nosso governante ou nosso representante na AR, mas sim pela exigência que se impõe e se lhe nota em todas as suas crónicas quanto aos atributos que o povo português deveria ter.

Não me lembro de ninguém que esteja mais habilitado para protagonizar o Grande Português do concurso: se todos lhes prestássemos mais atenção ao que diz e fizéssemos justamente aquilo que ele faz, era muito provável que os portugueses pudessem estar precisamente na mesma no que respeita a todos os aspectos materiais, mas estavam muito mais lucidamente deprimidos com a sua própria mediocridade…

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