Se a linhagem BA.2 é mais transmissível e "poderá ser ligeiramente mais agressiva" do que a Ómicron original? Francamente, depois da eclosão da guerra na Ucrânia, quase por saturação e desforra, estamo-nos todos a cagar para o assunto!
28 fevereiro 2022
UMA INDEPENDÊNCIA QUASE EM JEITO DE PARTIDA DE CARNAVAL
28 de Janeiro de 1922 foi uma terça-feira de Carnaval. E, muito provavelmente por acaso, foi também o dia escolhido pelo governo britânico - então encabeçado por David Lloyd George - para produzir uma declaração em que concedia unilateralmente a independência ao Egipto, país sobre o qual exercera até aí um protectorado. Aparentemente seria um acontecimento notável, já que em todo o continente africano só existiam então dois países independentes. Contudo, a concessão da independência estava tão associada a restrições à autonomia do Egipto independente que tanto o gesto como a ocasião se tornavam desprovidos de importância. Denominando-os por direitos de reserva, os britânicos reservavam-se, naquela declaração, os direitos de estacionar tropas no Egipto, para o «defender contra qualquer agressão ou interferência estrangeira», e o direito de reclamar prioridade para a movimentação de tropas através do estratégico Canal do Suez. O Reino Unido retinha ainda o direito de proteger os interesses estrangeiros e das minorias europeias no Egipto. Finalmente reservava-se o direito de intervir até na política externa egípcia. Não será por isso surpreendente que o anúncio e a dita independência, coincidente com a data carnavalesca, não tenha sido levado muito a sério. Significativo disso, a notícia só apareceu três dias depois na imprensa portuguesa (acima) e, mesmo assim, o que parece importante noticiar são «as conferências» entre o primeiro-ministro britânico e o governador britânico do Egipto, Edmund Allenby. Uma notícia onde não aparecem egípcios, os tais que deviam estar a celebrar, esfuziantes, a independência recém concedida... Apetece rematar esta evocação com ironia, acrescentando que os egípcios propriamente ditos, nem tinham direito a participar no corso desta independência de Carnaval...
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27 fevereiro 2022
O 40º ANIVERSÁRIO DE ELIZABETH TAYLOR
27 de Fevereiro. Elizabeth Taylor (1932-2011) nasceu há precisamente 90 anos, mas a efeméride que hoje pretendo assinalar foi a celebração do seu 40º aniversário, em Budapeste em 1972 (acima). Tratou-se de um acontecimento muito socialite, considerada a categoria dos participantes, mau grado o pormenor, acima não mencionado, mas mesmo assim bizarro, de a festa ter lugar num país comunista. Para além dos dois anfitriões, a aniversariante e o seu marido, o também actor Richard Burton (1925-1984), entre a lista de convidados contavam-se a antiga actriz, depois tornada princesa do Mónaco, Grace Kelly (1929-1982), o músico, ex-Beatle, Ringo Starr (1940- ), e ainda os actores Michael Caine (1933- ), Raquel Welch (1940- ) e Susannah York (1939-2011). Provavelmente o mais interessante aspecto do aniversário era mesmo a prenda, um grande e carismático diamante denominado Taj Mahal cuja história começara no princípio do século XVII na Índia. Precisamente por ser interessante e rica em detalhes, muito mais substancial e intemporal do que as estrelas da festa, é que não interessava nada a quem produziu o documentário acima....
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MUITA PARRA E POUCA UVA
Durante os três primeiros dias da Segunda Guerra Mundial - 1, 2 e 3 de Setembro de 1939 - o Diário de Lisboa produziu nada menos do que oito edições (acima) e todas elas com uma primeira página diferente. E no entanto, a informação que ali se pode ler é o óbvio. Tudo o que de importante e interessante estava a ocorrer só mais tarde se soube. Fartei-me de me lembrar disso durante as emissões dos vários canais de informação ao longo destes três primeiros dias da invasão russa da Ucrânia. O que é que se soube, mesmo? Quase nada, um desconhecimento que foi meticulosamente esticado por intermináveis horas de emissões! Entretanto - e estava a ser tão grave, até agora... - desapareceu praticamente a pandemia!
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26 fevereiro 2022
O PROJECTO DE VIAGEM À LUA DA SOCIEDADE INTERPLANETÁRIA BRITÂNICA... e os talentos dos marcianos
26 de Fevereiro de 1947. Esta notícia publicada no Diário de Lisboa apresenta uma explicação desenvolvida - desenvolvida à escala de jornal, naturalmente... - de um projecto de construção de um gigantesco foguetão para uma viagem ao nosso satélite: o foguete pesaria «mais de 1.000 toneladas» (o Saturno V pesaria quase o triplo disso), seria «tripulado por três homens» (completamente de acordo com as missões Apollo - embora apenas dois poisassem na Lua), «para fazer a viagem à Lua em 48 horas» (na verdade, cerca de 76/80 horas até à inserção em órbita lunar e outras 24 até a aterragem). O artigo é um excelente exemplo percursor do interesse que a exploração espacial viria a despertar na opinião pública. O livro cuja capa aparece à esquerda foi publicado nos Estados Unidos menos de três meses depois (Maio de 1947). Este artigo constitui também um excelente exemplo da confusão entre a antecipação científica e a ficção científica: a sobriedade do princípio a respeito do foguetão descamba no final em considerações a respeito «da inteligência dos marcianos e (d)a perícia dos seus engenheiros»...
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25 fevereiro 2022
SOBRE O OSTRACISMO...
...eu não tenho quaisquer dúvidas quanto às razões que levam todos os outros partidos com representação parlamentar a votar o Chega ao ostracismo. O que me intriga, confrontados com o resultado da votação de ontem sobre a invasão russa da Ucrânia (resultado que nem sequer foi surpreendente...), são as razões para que não se assista a outras manifestações idênticas, também de todos os outros partidos parlamentares, em relação ao PCP. Não compartilhando visivelmente os valores que são comuns a todas as restantes organizações que estão presentes naquele hemiciclo, há um inexplicável - e inaceitável - tratamento de favor dado aos comunistas.
OS QUATRO MAPAS A CORES A RESPEITO DE UMA SITUAÇÃO FINANCEIRA QUE SE SABIA NÃO SER RÓSEA
25 de Fevereiro de 1922. «A direcção do Banco de Portugal expôs hoje aos jornalistas quatro mapas a cores (...) Nunca um trabalho deste género (...) se fez entre nós. (...) Presta-se a conclusões interessantes que faremos nos próximos números do Diário de Lisboa.» Por agora a conversa era mesmo e apenas a respeito da excelência dos mapas, sobre a identificação de quem os executara, e uma mera transcrição dos seus títulos, sumário do que se seguiria, presumia-se. Mas, no dia seguinte, porque era Domingo, o jornal não se publicou. Nada apareceu a respeito na edição de segunda-feira, 27 de Fevereiro e no dia seguinte o Diário de Lisboa tornou a não ser publicado por ser terça-feira de Carnaval. Fui ver às edições dos dois dias seguintes, 1 e 2 de Março de 1922 mas, mais uma vez, nada encontrei a respeito de «conclusões interessantes». E, se Cristo apenas ressuscitou ao terceiro dia, foram precisos o dobro desses dias - seis dias, a 3 de Março de 1922 - para que o Diário de Lisboa finalmente publicasse a tal prometida análise. Análise essa que se reproduz integralmente abaixo, para que os leitores apreciem a superficialidade como os jornalistas a fizeram: dos quatro mapas a cores (e de todos os outros a preto e branco...) a pretensa análise - que é uma mera resenha histórica - ficou-se pelo mapa nº 1... E o assunto - a «situação financeira» de Portugal - não voltou - pelo menos nos tempos mais próximos - a ser falado nas páginas daquele jornal. Isto era o jornalismo económico há cem anos. A situação financeira do país não era rósea, e a qualificação dos jornalistas também não, não se tente agora inventar um passado daquela classe que os factos demonstram que não existiu.
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A EXTINÇÃO DA PRÚSSIA
25 de Fevereiro de 1947. Por um decreto do Conselho de Controle Aliado em Berlim, o órgão que reunia as quatro potências aliadas, é extinto o estado da Prússia (Abschaffung von Preußen), que fora o reino nuclear à volta do qual se criara o Império Alemão em 1871 e que depois de 1918 representara o mais importante estado da nova Alemanha. Se, na prática, quase tudo o que representara a Prússia desaparecera no final da Segunda Guerra Mundial, em Maio de 1945, do ponto de vista formal e como se compreende pela capa do título acima, este decreto vinha terminar um ciclo político que se prolongara por quase 350 anos. O livro é de 2006.
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24 fevereiro 2022
ENTRE AS POUCAS COISAS SUBSTANTIVAS QUE JÁ SE PODEM CONCLUIR...
...é que os Estados Unidos recuperaram a credibilidade internacional que haviam perdido com o episódio da armas de destruição maciça no Iraque. Em contraste, os russos mantêm o estilo aldrabão soviético-comunista de sempre. A maioria das pessoas - eu incluído - que se enganaram quanto à evolução da crise na Ucrânia tê-lo-ão feito por dividirem o seu cepticismo equitativamente pelas duas partes. Fizemos mal. Os factos (acima) demonstraram que o cepticismo não era para ser repartido assim, aliás tudo parece ter voltado a ser límpido, como o era nos tempos da Guerra Fria: de um lado, escondem-nos imensas coisas; do outro mentem-nos descaradamente.
O «RAID» IMAGINÁRIO SOBRE LOS ANGELES!
Na noite de 24 para 25 de Fevereiro de 1942 a cidade de Los Angeles experienciou um raid aéreo por parte dos japoneses que... não existiu. Isso não impediu que o acontecimento tivesse sido profusamente noticiado pela imprensa local e depois corresse mundo, tendo chegado a Portugal (no extremo direito da imagem acima). Foi um daqueles episódios de guerra que mais vale a pena esquecer.
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AS DESCOBERTAS DE ONTEM, HOJE TORNADAS ÓBVIAS
24 de Fevereiro de 1952. Esta notícia originária de Londres anunciava o que hoje é dado por óbvio: que o fumo aumenta o risco e a incidência do aparecimento do cancro de pulmão. A descoberta iria fazer um percurso progressivo até à sua aceitação universal. Logo à partida, atente-se ao conteúdo da notícia: «os fumadores moderados» (serão aqueles que fumam um maço de cigarros por dia) «não correm riscos excessivos». Quanto aos outros, «deviam usar filtros para reduzir a quantidade de fumo que metem nos pulmões». Em 70 anos as atitudes mudaram, mais rigorosas e exigentes, mas tenho a suspeita de que deveriam mudar ainda mais, só que a partir de agora para reverter o exagero que assumiram, tenha-se em atenção exemplos bem recentes como o do debate pelo Parlamento Europeu da proposta para a «inclusão de alertas à saúde nos rótulos das garrafas de vinho» (como agora acontece com o tabaco). Uma ideia feliz e apropriadamente rejeitada. As cautelas excessivas de 1952 são hoje desavergonhadas.
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UMA SINTÉTICA HISTÓRIA DA UCRÂNIA
Esta é a republicação de um poste originalmente publicado no Herdeiro de Aécio em 21 de Março de 2014, na sequência da crise que culminou com a ocupação da Crimeia pelos russos, poste esse que, historiando a questão sempre delicada das relações entre russos e ucranianos, as circunstâncias actuais terão tornado novamente interessante (re)considerar.
Uma das ironias mais interessantes da actual situação que confronta Rússia e Ucrânia é que o primórdio da História dos dois países é comum. Ou melhor: a História da Rússia começou na Ucrânia. O primeiro capítulo de A History of Russia c. 882 – 1996 de Paul Dukes é dedicado à construção e colapso de Kiev, 882 – 1240; também em Russia’s Empires de Philip Longworth o primeiro dos impérios russo é o de Kiev, c.850 – 1240. O primeiro capítulo deste segundo livro aborda até um tema pertinente, mas de discussão impertinente nos dias que correm: quem são os russos? Serão os ucranianos um subgrupo dos russos? Mas ultrapassemo-lo para começar a narrativa da fundação da cidade de Kiev (Kyiv em ucraniano) nas margens do rio Dniepre, na encruzilhada de duas rotas comerciais: uma terrestre que ligava de Leste para Oeste a Europa e a Ásia Centrais, a outra fluvial e na época muito mais importante, de Sul para Norte, conectando o mar Báltico e o mar Negro e, através deste, a grandiosa metrópole de Constantinopla, a capital do Império Romano.
As elites desse primeiro estado russo terão vindo de Norte, da Escandinávia, numa época em que, como vikings, os povos nórdicos atravessaram uma verdadeira explosão populacional que os fez instalarem-se por quase toda a Europa. Mas as principais influências culturais vinham do Sul. O ano de 988 é considerado o ano da adopção do cristianismo como religião oficial pela corte de Kiev – compare-se com datas simbólicas semelhantes para a Polónia (966) ou a Hungria (1000). Porém, ao contrário destes dois casos, o rito adoptado em Kiev é o Ortodoxo e a subordinação é ao Patriarca de Constantinopla, em vez do Papa. É a expansão deste estado conectando Kiev num eixo de Sul para Norte até à cidade mercantil de Novgorod (veja-se o mapa acima) que lhe confere o carácter pan-eslavo que o torna o antepassado daquilo que seria uma ideia mais vasta transcendendo o que seria apenas os primórdios da nacionalidade ucraniana. Esse estado foi-se expandindo e fraccionando em unidades menores autónomas ao longo dos Séculos XI e XII, até à data inequívoca do seu colapso final, a da conquista e o saque de Kiev pelos mongóis em 1240.
Os centros de poder mudaram-se com ela. A Ocidente haviam sobrado da conquista mongol os principados da Galícia e da Volínia, em breve fundidos num só reino e também numa complexa relação de hostilidade política mas aproximação cultural com os reinos católicos adjacentes da Polónia e da Hungria. A Nordeste, uma miríade de principados genuinamente russos começava a recompor-se dos efeitos do tsunami mongol e a evoluir paulatinamente para a concentração à volta de Moscovo como centro do primeiro estado genuína e especificamente russo. Mas foi de Noroeste que vieram os próximos senhores da Ucrânia: em 1362, Kiev foi conquistada, passando a fazer parte de um grão-ducado da Lituânia que estava em vias de se tornar territorialmente num dos maiores estados europeus (acima). Em 1386, esse grão-ducado reuniu-se ainda num regime de união pessoal com o reino da Polónia. Durante quase 200 anos a unidade dessa associação de coroas permaneceu frágil, à mercê das vontades dos nobres polacos, onde a escolha do rei se processava por eleição. Era um estado extensíssimo, mas frágil por falta de uma metrópole central: note-se no mapa abaixo o rosário de cidades importantes mas todas periféricas, sem capacidade de assumir a preeminência, desde Vilnius no Norte, a capital da Lituânia propriamente dita e depois, no sentido horário, Smolensk, Kiev, Lvov, Cracóvia e Varsóvia.
Finalmente, em 1569 deu-se a formalização da União dos dois estados, num figurino que iria durar outros 200 anos, embora a solução tenha sido alcançada à custa de uma supremacia da metade polaca (e católica) sobre as restantes nacionalidades. No entanto, reconheça-se que o ressurgimento económico de Kiev data dessa época da segunda metade do Século XVI. É nessa altura que a palavra Ucrânia (que quer dizer região fronteiriça) começa a ser empregue, que a nobreza ucraniana, que era originalmente lituana, se torna polaca por aculturação, e que uma identidade verdadeiramente ucraniana se começa a forjar com o aparecimento dos cossacos. Cossaco é uma palavra que tem uma interpretação fluida: há quem o considere um grupo étnico, há quem o considere sobretudo um modo de vida. Tratava-se originalmente de servos que abandonavam as suas regiões de origem para se irem instalar para lá do Dniepre, terras ainda por desbravar e que, por isso, estavam fora do alcance das autoridades tradicionais. Essas sociedades que aí se formavam eram predominantemente masculinas, violentas, permitiam ascensões sociais abruptas e eram também ferozmente ortodoxas, nem que fosse para acentuar o contraste com o catolicismo polaco do status quo que haviam abandonado. Os cossacos costumam ser frequentemente comparadas aos cow-boys do Oeste norte-americano embora tivessem ainda sobre eles a possibilidade adicional de se tornarem mercenários.
Em 1648, um desses generais mercenários, Bohdan Khmelnytskyi (1595-1657), desencadeou uma revolta bem-sucedida contra o poder lituano-polaco no fim da qual (1654) conseguiu obter o reconhecimento de uma autonomia para um estado cossaco na Ucrânia a Leste do Dniepre englobando a própria cidade de Kiev. O mapa acima mostra-nos a área desse estado autónomo. Mas note-se como, tratando-se da fronteira da civilização de então, quase todo o terço oriental da Ucrânia moderna, incluindo até a cidade de Kharkov (Kharkiv em ucraniano, cidade que só virá a ser fundada em 1656), ainda não faz parte dessa civilização. Ora, no Portugal contemporâneo já se havia dado a Restauração (1640) e era a última dinastia da sua História que ocupava já o trono. As inúmeras análises que se lêem actualmente sobre a Ucrânia tendem a esquecer esse aspecto: a sua relativa juventude quando comparada com os espaços da velha Europa. Para o que interessa, Khmelnytskyi transformou-se num herói da história ucraniana… mas também da história russa: as necessidades da política internacional obrigaram-no, para que a secessão tivesse sucesso, a trocar a suserania polaco-lituana pela dos russos de Moscovo. Em contrapartida, o tratamento histórico dado ao seu sucessor Ivan Mazepa (1639-1709) já não será assim tão consensual, porque ele tentou inflectir a política de associação com a Rússia, coligando-se com os seus inimigos suecos. Infelizmente para ele, o tsar Pedro o Grande venceu a decisiva batalha de Poltava em 1709. Os cossacos da Ucrânia Oriental perderam quase todos os seus direitos especiais. E 84 anos mais tarde, nas partições da Polónia de 1793 e 1795 (abaixo), a Rússia conseguia anexar quase toda a Ucrânia Ocidental, com excepção da Galícia (com a cidade de Lvov, rebaptizada de Lemberg), que coube à Áustria.
Apresentando-se repartida por dois Impérios multiculturais, a Ucrânia desaparece da História política por 200 anos para conseguir ressurgir no Século XIX através da sua identidade cultural. A questão é que existiam dois pólos que a dinamizavam, através da literatura e da poesia: Kiev na Rússia e Lvov na Áustria. Havia muito a distingui-los: o passado histórico, que fazia com que a religião predominante na Galícia fosse o greco-catolicismo (ortodoxos, mas integrados na hierarquia da igreja católica romana) enquanto a religião maioritária do resto dos ucranianos era a ortodoxa tradicional (sedeada em Moscovo); mas também o presente político, dividindo para reinar, os austríacos incitavam o nacionalismo ucraniano para que ele servisse de contrapeso ao polaco, os russos, pelo seu lado, reprimiam-no brutalmente, o ucraniano e o polaco. Entre 1876 e 1906 proibiu-se na Rússia a impressão de obras escritas em ucraniano. Eram publicadas em Lvov. A relação entre as duas metrópoles da cultura ucraniana faz lembrar, ainda hoje, a de dois irmãos que não desenvolveram grande intimidade entre si. Mas note-se a ausência nesta equação de cidades importantes situadas na Ucrânia, como a já acima referida Kharkov ou então Odessa, fundada em 1794 por decreto de Catarina II, uma cidade portuária de formação cosmopolita (teve até o duque de Richelieu por um dos seus primeiros governadores), situada nas costas do mar Negro. Em 1917, Odessa era a quarta maior cidade do Império e a maior da Ucrânia, mas era uma cidade imperial, mais russa que ucraniana.
O colapso dos Impérios russo em 1917 e austro-húngaro em 1918 constituiu uma oportunidade impar para que os nacionalistas obtivessem a independência da Ucrânia. A fotografia acima é de Janeiro de 1919, foi tirada em Kiev, uma manifestação celebrando a proclamação da união da antiga Ucrânia russa com a Ucrânia ocidental que fora austríaca. As ameaças à existência desta Ucrânia eram, porém, poderosas. Não apenas as duas facções russas (vermelhos e brancos) que se digladiavam na guerra civil pelo domínio do Império e que recolhiam significativas simpatias entre os ucranianos de concepção pan-eslava, mas também as aspirações nacionalistas de uma Polónia entretanto renascida, disposta a recuperar territórios da Ucrânia ocidental que haviam sido seus 125 anos antes. Em 1925, a Ucrânia estava de novo dividida por uma nova fronteira que se assemelhava muito à de 1914, só que a Galícia e a Volínia (com Lvov) estavam agora sob tutela polaca (abaixo). Agora era do lado russo que havia uma maior tolerância para a cultura ucraniana – embora a capital da república socialista soviética da Ucrânia até 1934 tivesse sido Kharkov! – enquanto a repressão cultural se fazia sentir mais vincadamente a Ocidente, com os polacos a procurar assimilar culturalmente os ucranianos. Porém, para além dos aspectos culturais, a administração soviética da Ucrânia tornou-se responsável por uma palavra específica, cunhada para acontecimentos que só se tornaram verdadeiramente conhecidos de há uns 25 anos para cá: Holodomor. É sinónimo de uma fome generalizada e deliberadamente provocada, consequência directa do processo de colectivização das terras agrícolas e que terá custado a vida a vários milhões nos princípios da década de 1930, sob Staline.
Foi em consequência disso que, durante a Segunda Guerra Mundial e especialmente depois da invasão da União Soviética pela Alemanha em 1941, os nacionalistas ucranianos começaram por acolher favoravelmente os invasores alemães até se aperceberem que eles não passavam de um terceiro partido num gigantesco embate de titãs, pouco atreitos às subtilezas de quem estava de permeio. Acabaram por ser aliados de uns e outros (alemães e soviéticos) assim como também os combateram. Serão poucos os que sabem que um dos principais generais soviéticos a ter combatido na Ucrânia, Nikolai Vatutin (1901-1944), morreu em consequência dos ferimentos causados por uma emboscada montada por guerrilheiros ucranianos; serão poucos os que sabem que vários anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial ainda havia uma guerrilha nacionalista activa que obrigava à mobilização de vários milhares de homens do KGB. Mas a verdade é que não foi apenas por culpa dos soviéticos que os nacionalismos dos povos constituintes da União Soviética (é também o caso dos povos bálticos) desapareceram da agenda mediática nos 45 anos que se seguiram ao fim da guerra. Os Estados Unidos também os consideraram causas nacionais desinteressantes, demasiado expostas e com poucas possibilidades de sucesso, situadas muito para além das fronteiras de segurança que os soviéticos haviam traçado em Ialta – nomeadamente a cortina de ferro. Mas não nos antecipemos…
A Ucrânia terá sido uma das repúblicas da União Soviética mais severamente devastada pelo conflito de 1941-45. Depois da guerra recuperou as duas províncias ocidentais que haviam pertencido à Polónia. O processo foi também acompanhado de uma importante migração de populações: mais de um milhão de polacos foram transferidos para Ocidente, um número substancialmente inferior de ucranianos atravessaram a fronteira no sentido inverso. A Ucrânia era a segunda república mais importante da União, a seguir à própria Rússia e a política oficial era de que tudo corria pelo melhor na relação entre elas (acima, um cartaz de propaganda a esse respeito). É claro que nem sempre era bem assim: em 1972, Leonid Brejnev afastara o primeiro secretário do partido comunista ucraniano Petro Shelest, acusado de nacionalismo e substituído por um Vladimir Shcherbytsky de muito mais confiança. Tanta, que ele ainda por lá estava, no mesmo cargo, em 1989… Nesse mesmo ano realizou-se aliás o último censo soviético. Segundo ele, 72% da população da Ucrânia era classificada como ucraniana, enquanto 22% era russa, concentrada sobretudo nas províncias (oblast) orientais e meridionais (abaixo). Mas tratava-se de uma daquelas imagens convenientes, típicas da lógica soviética de mostrar aquilo que se deseja (uma nacionalidade maioritária dentro da sua própria república), e não aquilo que já então deveria existir e que se mostra no mapa final, resultado do censo realizado em 2001: há uma apreciável proporção de ucranianos que se exprimem em russo e que constituem, com os russos propriamente ditos, um bloco sociológico (e também político) que tem um peso demográfico (e também eleitoral) muito semelhante ao dos ucranianos que se exprimem em ucraniano (mais abaixo).
Podem-se ver nesta ligação alguns exemplos da coincidência entre a distribuição geográfica das votações de diversos actos eleitorais e estes mapas etno-linguísticos. Pode dizer-se que na Ucrânia coexistem dois eixos ligando cidades importantes: há um, cultural, no sentido Leste-Oeste que liga Kiev a Lvov (azul), cidades a que aqui várias vezes nos referimos ao longo desta sintética História da Ucrânia; há outro, económico, de Nordeste para Sudoeste, unindo Kharkov com Odessa (vermelho), cidades que foram muito menos referidas. O que é muito mais difícil será perceber como se pode conectar um eixo com o outro… e manter a unidade da Ucrânia sem que uma das metades tenha a sensação que está a ser dominada pela outra. Trata-se de um país dividido e será uma evidência dizer que não se devem propor propostas de divisão de um país de ânimo leve. Mas também é verdade que não se pode excluir tal hipótese e que houve várias razões circunstanciais que levaram as potências a decidirem-se pela divisão de um país: fosse por 20 anos (o Vietname), por 70 anos (e ainda a contar: caso da Coreia) ou mesmo sem fim à vista (a Índia e o Paquistão). Mas permitam-me agora regressar à cortina de ferro que deixámos em suspenso lá em cima e evocar o exemplo da Alemanha, com uma sociedade aparentemente muito mais cimentada do que aquilo que acontecerá na Ucrânia, que também permaneceu dividida por 45 anos devido às tais circunstâncias. Vale a pena essa referência para nos apercebermos do quanto as fronteiras de segurança da Rússia recuaram neste últimos 25 anos, quando a criação de um estado satélite quase no centro da Europa (Alemanha Democrática) é agora substituída pela hipótese de um seu equivalente (Ucrânia oriental) na sua vizinhança imediata. Esta última observação não é para o leitor ter pena dos russos, é para que se perceba que os norte-americanos não andam nisto para lhes facilitar a vida.
23 fevereiro 2022
«CHI MAI»
Esta é uma das músicas mais conhecidas do compositor italiano Ennio Morricone (1928-2020), uma composição que recebeu o título de Chi Mai, e que, nesta versão e por coincidência, aparece a ser dirigida pelo próprio Morricone, numa actuação datada de há dez anos, em Moscovo. Chi mai é uma daquelas expressões difíceis de traduzir do italiano, já que a expressão - literalmente quem nunca - pode e deve ser traduzida por expressões distintas conforme as circunstâncias em que é usada - por exemplo quem, ou quem é que. Muita da fama da música deriva do facto de ela dominar as cenas finais do filme O Profissional (1981), protagonizado por Jean-Paul Belmondo. A cena, como perceberão se a virem abaixo, é sobre um momento de decisão crucial, e isso, conjugado com o facto da versão acima ser interpretada por uma orquestraa moscovita, levou-me a associar a música (improvavelmente e como se tratasse de uma recuperação da mesma música para outra banda sonora) à situação existente na Rússia e na Ucrânia.
A PRIMEIRA DAS ESPINGARDAS MAUSER
23 de Fevereiro de 1872. A espingarda Mauser Modelo 71 (acima), que fora originalmente concebida e projectada pelos irmãos Wilhelm e Paul Mauser é apresentada como a próxima arma individual para os soldados da infantaria alemã (Infanterie-Gewehr 71). A arma começa por ser produzida na Espingardaria Real de Württemberg em Oberndorf am Neckar, os Mauser irão prosperar, aperfeiçoar e inventar outros modelos, até ao seu nome de família se tornar um sinónimo de arma de fogo.
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O REFERENDO NA GRONELÂNDIA SOBRE A CEE
23 de Fevereiro de 1982. Tem lugar na terça-feira de Carnaval um referendo na Gronelândia para decidir se aquela (grande!) região autónoma da Dinamarca continuaria ou não fazer parte da então Comunidade Económica Europeia (CEE). Não consta que haja grandes celebrações de Carnaval por aquelas paragens (frias!) e venceu a rejeição, embora o número de votos contados (12.615 contra 11.180) mostre o limitado impacto demográfico da decisão. Apesar disso, politicamente, a decisão seria demonstrativa que a CEE não era o El Dorado apregoado pela propaganda de Bruxelas, a organização a que todos desejavam pertencer. Havia quem não o quisesse. A decisão viria a entrar em vigor dali por três anos, a partir de 1 de Fevereiro de 1985. Até ao Brexit (2016), por 34 anos, seria o único episódio de abandono da União Europeia. Um pequeno episódio, que a propaganda de Bruxelas se mostrava hábil em tornar ainda mais pequenino.
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22 fevereiro 2022
A MORTE MATADA DE JONAS SAVIMBI
22 de Fevereiro de 2002. Só com a morte de Jonas Savimbi se consegue assegurar o fim da guerra civil em Angola. É um daqueles casos em que é patente que o materialismo histórico não serve para explicar a História, como pretendiam os marxistas. Karl Marx nunca percebeu nada de África e as massas populares africanas, com toda a legitimidade recíproca, também se estiveram a marimbar para aquilo que Marx achava a respeito do modo de como elas se deviam comportar e definir os momentos decisivos da História. Estes episódios da História de Angola são de uma História de homens. A constatação daquele momento, corroborada pelo que se seguiu, é que, enquanto Jonas Savimbi foi vivo e apesar de inúmeras tentativas, não houve condições para a existência de uma solução política pacífica em Angola; e depois de morto, houve. Há duas versões das circunstâncias da sua morte: em combate ou executado. A versão oficial é demasiado conveniente para ser concludente. Mas, para o que interessa, estes episódios, não sendo gloriosos, são eficazes para os vencedores: recorde-se que já há mais de 2.000 anos os romanos haviam feito o mesmo cá por Portugal, com Viriato e depois com Sertório. O que os vinte anos entretanto transcorridos vieram revelar também, assunto do qual se fala bastante menos, é que a morte de Jonas Savimbi veio revelar, para além de qualquer dúvida, de que massa era feito José Eduardo dos Santos. Se até ali, a guerra fora uma desculpa preciosa para que a esmagadora maioria da população angolana vivesse em muito más condições, com o fim da guerra, e o fim da enorme despesa a ela associada, apenas se terá assistido a um reforço das contas bancárias privativas de tantos figurões que José Eduardo dos Santos caucionou com o seu péssimo exemplo. Ou alguém duvida que Angola sofreu dos problemas de corrupção que ainda sofre sobretudo por causa do presidente que a maioria da sua população havia escolhido?
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21 fevereiro 2022
O CONCEITO DE JÚRI NACIONAL
21 de Fevereiro de 1972 foi dia de Festival RTP da Canção. Mas não vou evocar canções, antes o conceito que a televisão nos transmitia do que seria um júri nacional. Já se perdera o interesse na encenação de se telefonar para as capitais de distrito para saber qual a votação, e agora, como se vê na fotografia acima, traziam-se as capitais de distrito para o estúdio. O que continuava por resolver era a propalada dimensão pluricontinental de Portugal - não se vêem ali os jurados ultramarinos e, mesmo que estivessem, uma pergunta pertinente seria a forma como as duas maiores províncias africanas estariam representadas: o caso de Moçambique, por exemplo, estaria - se estivesse - representado por um jurado ou por nove jurados, um por cada província moçambicana, como se estava a ver que acontecia com a Metrópole?... Enfim, aqueles que quisessem pensar no assunto, perceberiam que o - denominado - júri nacional era de um nacionalismo sui generis...
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NIXON NA CHINA
21 de Fevereiro de 1972. Richard Nixon, o presidente dos Estados Unidos, inicia a sua muito propagandeada visita à China. Ainda hoje a doutrina se divide quanto às suas consequências em termos de xadrez mundial. Em 1987 estreou-se uma ópera em três actos e com a duração de cerca de 2 horas e meia que é baseada nessa visita e com esse mesmo nome: Nixon na China. Descontada essa inspiração artística e apesar de proclamada na altura como histórica (o que é que para os jornalistas não é histórico?...), ainda hoje a doutrina das relações internacionais se divide quanto às suas consequências em termos de xadrez mundial.
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20 fevereiro 2022
BEM PODEM JOE BIDEN E BORIS JONHSON ENDEREÇAR UM GRANDE «AGRADECIMENTO» A ALGUNS DOS SEUS ANTECESSORES
Na questão da hipotética invasão da Ucrânia pela Rússia, bem se podem espremer Biden e Jonhson em buriladas declarações, que se percebem terem sido concebidas para serem catapultadas automaticamente para cabeçalho de jornal. Aparecem e não são levadas lá muito a sério. O problema dessas declarações não será a forma, é mais o conteúdo e será sobretudo o fundo - a credibilidade que se atribui a quem presta essas declarações. Houve quem no passado tivesse dado cabo dela - da credibilidade. Nos casos concretos acima referidos, George W. Bush e Tony Blair. E a credibilidade não costuma ser exclusiva do titular, é extensível ao cargo, e é, para mais, um atributo que sempre foi extremamente difícil de erigir e depois de sustentar, mas que pode ser desmontado com a facilidade de uma barraca de circo - como aquele circo que se ergueu na placa de estacionamento da base das Lajes em Março de 2003.
OS LIMITES DA HABILIDADE DIPLOMÁTICA DE SALAZAR
20 de Fevereiro de 1942. Embora tivesse sido muita aclamada, a habilidade diplomática do presidente do Conselho (Salazar) para evitar o envolvimento de Portugal na Segunda Guerra Mundial tinha os seus limites e, há precisamente oitenta anos, as notícias que chegavam do outro lado do Mundo mostravam essa limitação aos portugueses. «Tropas japonesas desembarcaram na parte portuguesa de Timor, o que representa uma nova (e aqui a palavra nova quer dizer que já houvera outra...) violação dos nossos direitos de soberania». A outra violação, prévia, fora a dos australianos, britânicos e holandeses. Como se pode ler no trecho abaixo, de um livro de uma testemunha dos acontecimentos, desde há dois meses (17 de Dezembro de 1941) que uma força militar dos aliados se instalara na mesma cidade de Dili onde os japoneses agora desembarcavam. Embora se tratasse de uma clara violação da neutralidade portuguesa nas suas possessões coloniais, esse outro episódio permanecera abafado pela censura na metrópole, porventura para manter as aparências. Mas era uma situação insustentável porque os japoneses não iriam tolerar aceitar Timor Oriental como um santuário onde as tropas aliadas se poderiam refugiar, depois de terem dominado e desarmado a pequeníssima guarnição portuguesa. Como se pode ler no fundo da página, perante este desembarque em maior força do que o precedente, e muito mais promovido do que fora o outro, «o sr. ministro do Japão fora recebido, em audiência, no palácio de S. Bento, pelo sr. dr. Oliveira Salazar, presidente do Conselho». Contudo, nada se dizia sobre o que fora discutido. E quanto à outra notícia, a do paquete «João Belo», que saíra de Lourenço Marques em 28 de Janeiro, escoltado pelo aviso NRP «Gonçalves Zarco», e transportando um batalhão que iria guarnecer Timor, a sua presença «a dois terços do extenso percurso» (de Maputo a Dili), a sua mobilização pecará por tardia - adivinhava-se que iria voltar para trás, sem desembarcar as tropas, como veio, de facto, a acontecer.
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19 fevereiro 2022
O PRIMEIRO ATAQUE AÉREO À AUSTRÁLIA
19 de Fevereiro de 1942. Há precisamente 80 anos, a Austrália sofreu o primeiro ataque registado da sua História. Foi um raid aéreo ao porto de Darwin perpetrado precisamente pelas mesmas esquadrilhas da força aeronaval que, dois meses e meio antes, atacara Pearl Harbor. O comandante das 188 aeronaves era o mesmo Mitsuo Fuchida que se cobrira de glória naquela outra ocasião. No caso e em complemento, os cerca de 60 navios que estavam fundeados no porto australiano vieram a ser atacados também por esquadrilhas de bombardeiros (54) que haviam descolado de bases aéreas de ilhas da Indonésia que entretanto haviam sido conquistadas pelos japoneses.
Darwin era então uma pequena cidade de 5.800 habitantes (em tempo de paz) situada no extremo Norte da Austrália e que era a capital do mais remoto e despovoado dos seus Territórios, o do Norte. Só a expansão militar dos japoneses por toda a Ásia e Pacífico é que lhe conferira subitamente aquela importância estratégica desmedida como potencial porta de entrada para o continente australiano. Aos 242 aviões que os japoneses puseram no ar a RAAF apenas podia opor uma trintena deles. O desfecho do raid era antecipável: toda a aviação australiana foi destruída, 11 navios foram afundados, 25 ficaram danificados, contaram-se 236 mortos e entre 300 a 400 feridos.
Como em Pearl Harbor, as perdas entre os atacantes foram ínfimas: 4 aparelhos abatidos, 2 mortos. O que distingue o episódio do de Dezembro de 1941 nas ilhas Hawaii foi a sua (não) utilização como elemento de propaganda para mobilizar os australianos. Na Austrália o episódio foi tratado com muito mais discrição, porventura pelo receio que acendesse no público o receio de uma invasão. Este ataque aéreo de 19 de Fevereiro de 1942 foi, aliás, o primeiro de uma longa sucessão deles que, entre Fevereiro de 1942 e Novembro de 1943 tiveram lugar ao longo das costas despovoadas do Noroeste da Austrália. Ataques aéreos dos japoneses que, actualmente, quase ninguém sabe que tiveram lugar.
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18 fevereiro 2022
A RECAPTURA DO CAPITÃO ROBY
18 de Fevereiro de 1982. O «capitão Roby» (que nunca fora capitão, nem sequer se chamava Roby...) tornava a ser notícia de jornal por ter sido recapturado. Recapitulando, Roby fora condenado a sete anos e meio de prisão, em meados de Agosto de 1981, estivera cerca de três meses dentro, evadira-se da prisão do Linhó, e andava há quase três meses cá fora, foragido, quando foi recapturado, escondido num quarto de uma residencial de Lisboa, onde, sob um nome falso, de bigode e barba postiços, se fazia passar por um jornalista «empenhado em escrever um artigo sobre os bastidores da AD». Como se percebia nas notícias a seu respeito, continuava a ser indisfarçável uma certa simpatia da comunicação social pelo escroque. Felizmente ainda não havia televisões privadas, senão o destino certo deste aldrabão era ir fazer figuração para os concursos televisivos, ao jeito daquilo que vimos acontecer com Bruno de Carvalho.
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17 fevereiro 2022
E BORIS JOHNSON LÁ CONTINUA...
As caricaturas podem ser irónicas, as fotografias podem ter sido muito bem apanhadas, a saturação com o impasse político pode ter levado os cartonistas a liberdades extremas para retratar o impasse da situação, mas, já não se pode levar a sério o arrependimento e não se aceita sequer o encadeado de desculpas que já foram apresentadas a respeito do escândalos das festas. Contudo, a verdade nua é que o primeiro ministro Boris Johnson continua a ser o inquilino do nº 10 de Downing Street. E as consequências desse facto, se constituíam uma vergonha e um embaraço nacional quanto, por exemplo, Édith Cresson ocupou o Matignon em 1991/92, ou quando tivemos Pedro Santana Lopes como inquilino de São Bento em 2004/05, essa permanência está a ser, pelas mesmíssimas razões, a mesma vergonha e embaraço para o Reino Unido. Por muito que o folclore noticioso à volta da Ucrânia tente dispersar a atenção do quanto é impróprio ter um tal primeiro ministro.
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A «PEÃ DE BREGA» DO GOVERNO SOCIALISTA
Na tauromaquia, o peão de brega é a figura subalterna do espectáculo que tem como função posicionar o toiro em praça, da melhor forma para a lide. Em política, continua a ser uma figura subalterna que tem que aplacar e deflectir as críticas que surgem nos órgãos de comunicação social a respeito das broncas grosseiras que os governos às vezes cometem. Como foi a questão da anulação dos 157 mil votos dos emigrantes, quando, a 13 de Fevereiro, o Ministério da Administração Interna (MAI) agravou a barraca em que se metera, produzindo um comunicado a fingir que aquilo não tinha sido nada com ele. No dia seguinte, dia 14 de Fevereiro, tivemos oportunidade de assistir a um penoso momento de televisão na CNN, com a comentadora residente Ana Catarina Mendes (pelo PS) a tentar argumentar, pateticamente, em prol do que não fazia qualquer sentido - que o MAI não tivera qualquer responsabilidade pelo resultado final do escrutínio*. (ou seja, a tese era que o MAI seria só responsável pela logística, o escrutínio não é com eles - o facto dos resultados eleitorais estarem afixados num site com a denominação https://www.legislativas2022.mai.gov.pt/parece ser irrelevante...) Mas no dia seguinte, 15 de Fevereiro, à entrada de uma reunião da comissão política nacional do PS e sem ter que se bater com o contraditório, apenas com pessoas a segurar em microfones, António Costa mostrou como era a nova versão socialista dos acontecimentos, anunciando que o episódio «deve servir de lição para todos». Mais uns do que outros, impor-se-ia a clarificação, pensando na figura ridícula que Ana Catarina Mendes fizera na televisão precisamente no dia anterior... Quando as especulações a dão, a Ana Catarina Mendes, como uma possível ministra do próximo governo, confesso que a minha primeira reacção a essa hipótese foi, já que isso implicaria o abandono do programa da CNN, pensar na vantagem que esse desaparecimento representaria para o showbiz do comentadorismo político na televisão portuguesa. Quanto ao impacto dessa hipotética presença na equipa governamental, ficamos para a avaliar quando do anúncio da sua composição, agora retardada.
* «– O que o MAI veio dizer é que tudo o que dependia do MAI, ou seja, chegar o processo, os cadernos eleitorais, os votos, as pessoas terem o direito a votar - tanto mais que votaram! – tudo isso foi cumprido. O que acontece é que, depois de se ter assumido uma prática...»(Ana Catarina Mendes)
«– E o MAI só cedeu o espaço para a tal reunião?» (Cecília Meireles)
«– E não sabia qual era o conteúdo da reunião?» (José Pacheco Pereira)
«– Estão a fazer-me perguntas sobre uma reunião onde eu não estive. A minha verdadeira preocupação é que, depois de haver um governo que se preocupa com a comunidade emigrante, que garantiu o recenseamento automático e que isso permitiu que mais pessoas pudessem votar, que mais pessoas tivessem votado nestas eleições do que nas eleições anteriores...»(Ana Catarina Mendes)
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O 15.007.032º VW CAROCHA
17 de Fevereiro de 1972. A Volkswagen faz uma grande promoção à produção do seu 15.007.032º VW Carocha, um modelo 1302 S de cor azul clara metalizada que sai da linha de montagem da sua fábrica de Wolfsburg. Com ele, o VW Carocha passa a ser o modelo de automóvel mais fabricado em todo o mundo, superando o Ford Modelo T do princípio do século. Tendo depois a sua produção sido deslocalizada para outras fábricas, noutros países e noutros continentes, ainda se virão a produzir posteriormente mais 6,5 milhões de unidades nos 30 anos seguintes, até atingir um grande total, terminado na linha de montagem de uma fábrica no México, de 21.529.464 VW Carochas produzidos em 65 anos, entre 1938 e 2003.
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16 fevereiro 2022
A HUMILHAÇÃO DE UM PRESIDENTE PROMOVIDO POR CONSTITUCIONALISTA
Apesar de, em 2016, o estatuto de constitucionalista já estar muito desgastado como fonte de respeito e autoridade, pelo número de vezes em que os assim apodados, produziam declarações inconsistentes com o senso comum, ainda assim valeria a pena, parece, produzir textos como este acima, lembrando que o recém eleito presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, era considerado um constitucionalista. Já lá vão seis anos! Por acaso, é atributo - o de constitucionalista - que não tem servido de grande coisa a Marcelo: a comunicação social já identificou os constitucionalistas que dizem aquilo que eles - jornalistas - querem que se diga, e portanto é facílimo seleccionar o punhado deles para corroborar ou então contrariar o que Marcelo decidiu. Contudo, o que acabou de acontecer, a respeito do escândalo do escrutínio dos votos da emigração, é algo diferente e está a ser uma humilhação para o presidente da República. Na semana que passou, Marcelo achou que antecipava a decisão do recurso que fora apresentado ao Tribunal Constitucional (dia 8), teimou (dia 11), e afinal os juízes tiraram-lhe completamente o tapete debaixo dos pés, o que até é cómico, porque se trata de uma habilidade que costuma ser Marcelo a fazer aos outros, e não ao contrário. Isto tudo, depreende-se, porque pela versão oficial, e como constitucionalista, o presidente da República devia ter uma sensibilidade acrescida, diria mesmo empatia, para o caso em apreciação pelos juízes. Ora apreciando o caso pelo seu desfecho prático, parece que não. Marcelo até podia ter sido polícia ou bombeiro.
O AUTOR DA ASSOCIAÇÃO DE PALAVRAS MAIS ESCATOLÓGICA DE TODO O JORNALISMO PORTUGUÊS
Quando da morte de Lauro António, no princípio deste mês, não assinalei o acontecimento no blogue, embora existissem em arquivo algumas referências a si, nomeadamente comentários à versão parodiada de Lauro Dérmio, o crítico de cinema que, o tornou destruía a língua inglesa. Foi com surpresa que registei naquela altura um súbito aumento de visitas a esses postes - especialmente a «LETZ LUQ ATE DE TREILA», mais do que a outras evocações mais sérias. Agora, por ocasião da morte de Artur Albarran, não vou cometer o mesmo erro. Apesar de também o ter evocado por repetidas vezes neste blogue, especialmente quando as situações se apresentavam graves, evidenciemos nesta ocasião quanto o falecido merece ser recordado pela invenção da associação de palavras mais escatológica de todo o jornalismo português. Note-se que, no caso, escatológico é para ser entendido, não no sentido merdoso, antes no sentido mais erudito e teológico do adjectivo, i.e., da doutrina sobre o fim do mundo.
Uma nota de rodapé: a jornalista do Observador podia ao menos citar mais rigorosamente e pela ordem correcta a frase que tanto popularizou o defunto... É o chamado jornalismo «meia bola e força».
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UMA TENTATIVA DE FAZER MÁRIO SOARES PASSAR POR UM INTELECTUAL
16 de Fevereiro de 1962. Numa das páginas interiores do Diário de Lisboa Mário Soares era dado como o autor de um texto sobre a Historiografia da República. Se o tema não é neutro, a escolha do autor também não. Contudo, o futuro tinha guardado aos portugueses um conhecimento mais aprofundado do carácter de Mário Soares, quando os seus anos de governo mostraram que não era «grande amigo» de «leituras» e, por maioria de razão, «grande praticante» de «escrituras». Tinha outras qualidades. A esta distância de 60 anos e consolidada a sua reputação, a pergunta que se coloca nem sequer é: quem terá ajudado Mário Soares a escrever este artigo? Será antes: quem é que o escreveu por ele? (Uma nota adicional em relação a uma outra notícia que foi apanhada no recorte e que parece ser também manipuladora: os «três aviadores mortos» em Angola não o terão sido propriamente em combate, tê-lo-ão sido em operações numa zona de guerra, o que será muito diferente. Nem a UPA nem o MPLA (os guerrilheiros angolanos) possuíam aviação, nem sequer artilharia anti-aérea, para combaterem a superioridade aérea da FAP - Força Aérea Portuguesa. As mortes foram causadas por desastres aéreos em aviões que não foram derrubados pelo inimigo...)
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15 fevereiro 2022
PORQUE É QUE A FOTOGRAFIA DA RENDIÇÃO DE SINGAPURA É SEMPRE A MESMA
15 de Fevereiro de 1942 é o dia em que os britânicos se renderam aos japoneses em Singapura. Foi naturalmente um dos acontecimentos mais humilhantes da Segunda Guerra Mundial para o Reino Unido. Não apenas naquele momento, mas também posteriormente, quando os factos vieram comprovar que os vencedores eram apenas menos de metade dos vencidos (36.000 contra 85.000 soldados). Aliás, a batalha das reputações ao redor da queda de Singapura travar-se-á de algum modo até hoje, dia em que se completam 80 anos do seu fim. Comece o leitor por prestar atenção à fotografia que serve quase invariavelmente como ilustração do acontecimento - e os três livros que encimam este texto são uma excelente amostra disso. Essa mesma fotografia é também a que ilustra a página em inglês da Wikipedia dedicada ao assunto.
Uma fotografia que nem se destaca por sintetizar alguma coisa mais do que as outras que foram tiradas naquela mesma ocasião. Pelo contrário, a fotografia que costuma ser seleccionada é até enganadora porque está cortada, no seu lado esquerdo, e não se vê a bandeira branca de parlamentar que, como se vê nas outras fotos, é transportada pelo major C. Wild. E esta questão é tanto mais relevante quanto, nas exigências que haviam sido feitas pelo general Yamashita (o comandante das forças atacantes), fora enfatizada esse aspecto de que os parlamentares - incluindo o general Percival (o comandante das forças sitiadas) - deviam trazer consigo uma bandeira branca ao lado da «Union Jack» (o pavilhão britânico), como um símbolo acrescido da derrota e da humilhação britânica.
Apesar de muito sérias, as consequências militares e políticas, tanto de curto como de mais longo prazo, desta capitulação britânica em Singapura há oitenta anos, são hoje memórias, a Malásia e Singapura tornaram-se independentes, as ambições imperialistas britânicas na Ásia pertencem aos livros de História. E no entanto, seja por inércia, ou seja porque ninguém gosta de aparecer a fazer má figura, ou seja por outra causa qualquer, existe uma elevada probabilidade que os textos em inglês a propósito da queda de Singapura que existem por essa net fora, apareçam ilustrados com a sacrossanta fotografia, apesar, como se percebe por estes dois exemplos mais abaixo, da riqueza documental alternativa. Aliás, não deve ser por acaso que as páginas da Wikipedia sobre o tema noutros idiomas, exibem outras fotos que não a consagrada, aquela que, só por acaso, esconde a bandeira branca da rendição.
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14 fevereiro 2022
O EFEITO EINSTEIN E O EFEITO ARTUR BAPTISTA DA SILVA
É uma pena que a nossa comunicação social não preste atenção à Ciência. É que se aprende imenso a lê-la! Aprende-se, por exemplo, que os jornalistas, apesar de adorarem monopolizar as posições de produtores de opinião em todos os órgãos de comunicação social, são tidos em muito fraca conta em termos de confiança quanto àquilo que dizem. Num estudo publicado na semana passada na revista nature human behaviour (eis a ligação para o abstract), tende a comprovar-se que aquilo a que as pessoas conferem mais credibilidade nas mensagens com que são confrontadas estará afinal associado ao cariz científico do autor da mensagem. E esse fenómeno até tem um nome: fiquei também a saber que se denomina isso por Efeito Einstein. Mas aquilo que aprendi não ficou por aqui. Fiquei a saber que, para realizar esse estudo, os seus autores se socorreram de um site chamado New-Age Bullshit Generator, que foi, para mim, uma descoberta fantástica: um sítio concebido para produzir frases de conteúdo completamente disparatado (como os dois exemplos acima), a que os autores do estudo adicionaram uma autoria absolutamente virtual - aquele cientista Edward K. Leal, apesar da hipotética ascendência portuguesa do apelido, pura e simplesmente não existe. O Saul J. Adrian também não. As fotos foram forjadas. O objectivo do estudo foi constatar o tal Efeito Einstein e, sumariando as conclusões, quando a autoria dos disparates era atribuída ao cientista, os participantes do estudo - um total de 10.195 de 24 países diferentes - tendiam a dar-lhe mais credibilidade. Como acontece tantas vezes, e infelizmente, Portugal não foi um dos 24 países envolvidos neste interessante estudo. Ocorreu-me porém, um outro potencial estudo do mesmo género, o de testar entre nós o Efeito de um fenómeno que denominarei por Efeito Artur Baptista da Silva. Aqueles que se recordarem do episódio Nicolau Santos - Baptista da Silva que nos animou durante o mês de Dezembro de 2012 perceberão de imediato ao que me estou a referir. Os que já o esqueceram ou nunca souberam podem consultar esta conexão. O episódio Nicolau Santos - Baptista da Silva (tipicamente português) assentou na conjugação de dois fenómenos: o da credibilidade (o tal Efeito Baptista da Silva) e o da ressonância (o Efeito Nicolau Santos). Para a componente da credibilidade, e em vez de ser cientista, para que a opinião de alguém seja promovida em Portugal, torna-se quase fundamental que o opinador esteja associado ao estrangeiro; quer tenha estudado no estrangeiro (como Cavaco Silva, mas também como Vasco Pulido Valente ou António Barreto) ou então tenha estado a trabalhar no estrangeiro (como António Borges ou então Vítor Gaspar). Foi o estrangeiro - o ser funcionário da ONU (ver a legenda da imagem abaixo) - que conferiu a credibilidade basal a Artur Baptista da Silva. Mas isso só por si nunca teria chegado para o sucesso alcançado porque, por causa do monopólio que os jornalistas reservam para si como produtores de opinião, é imperativo, para que haja ressonância, que um desses jornalistas-chave venha a patrocinar a estrela do opinionismo em ascensão. No caso que descrevemos foi Nicolau Santos, que abaixo vemos com o seu papillon de timbre como anfitrião/patrocinador num programa televisivo da SIC Notícias. Reconheça-se porém, que a aldrabice já estava montada, e que Nicolau Santos foi apenas o infeliz responsável pela dimensão que ela depois veio a assumir. O que lhe aconteceu a ele poderia ter a qualquer outro otário dos seus colegas majors na profissão: de Ricardo Costa, a José Manuel Fernandes, passando por António José Teixeira. Para testar e existência ou não destes dois Efeitos nos portugueses, falta-me, confesso, o conhecimento científico para montar uma experiência que comprove (...ou não) a sua existência entre os portugueses. A existirem, com um impacto temível e risível quando, como aconteceu em Dezembro de 2012, funcionou em efeito encadeado.
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