15 fevereiro 2022

PORQUE É QUE A FOTOGRAFIA DA RENDIÇÃO DE SINGAPURA É SEMPRE A MESMA

15 de Fevereiro de 1942 é o dia em que os britânicos se renderam aos japoneses em Singapura. Foi naturalmente um dos acontecimentos mais humilhantes da Segunda Guerra Mundial para o Reino Unido. Não apenas naquele momento, mas também posteriormente, quando os factos vieram comprovar que os vencedores eram apenas menos de metade dos vencidos (36.000 contra 85.000 soldados). Aliás, a batalha das reputações ao redor da queda de Singapura travar-se-á de algum modo até hoje, dia em que se completam 80 anos do seu fim. Comece o leitor por prestar atenção à fotografia que serve quase invariavelmente como ilustração do acontecimento - e os três livros que encimam este texto são uma excelente amostra disso. Essa mesma fotografia é também a que ilustra a página em inglês da Wikipedia dedicada ao assunto.
Uma fotografia que nem se destaca por sintetizar alguma coisa mais do que as outras que foram tiradas naquela mesma ocasião. Pelo contrário, a fotografia que costuma ser seleccionada é até enganadora porque está cortada, no seu lado esquerdo, e não se vê a bandeira branca de parlamentar que, como se vê nas outras fotos, é transportada pelo major C. Wild. E esta questão é tanto mais relevante quanto, nas exigências que haviam sido feitas pelo general Yamashita (o comandante das forças atacantes), fora enfatizada esse aspecto de que os parlamentares - incluindo o general Percival (o comandante das forças sitiadas) - deviam trazer consigo uma bandeira branca ao lado da «Union Jack» (o pavilhão britânico), como um símbolo acrescido da derrota e da humilhação britânica.
Apesar de muito sérias, as consequências militares e políticas, tanto de curto como de mais longo prazo, desta capitulação britânica em Singapura há oitenta anos, são hoje memórias, a Malásia e Singapura tornaram-se independentes, as ambições imperialistas britânicas na Ásia pertencem aos livros de História. E no entanto, seja por inércia, ou seja porque ninguém gosta de aparecer a fazer má figura, ou seja por outra causa qualquer, existe uma elevada probabilidade que os textos em inglês a propósito da queda de Singapura que existem por essa net fora, apareçam ilustrados com a sacrossanta fotografia, apesar, como se percebe por estes dois exemplos mais abaixo, da riqueza documental alternativa. Aliás, não deve ser por acaso que as páginas da Wikipedia sobre o tema noutros idiomas, exibem outras fotos que não a consagrada, aquela que, só por acaso, esconde a bandeira branca da rendição.

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