9 de Novembro de 1979. Em antecipação às eleições legislativas intercalares que se iriam realizar no próximo dia 2 de Dezembro, o Diário de Lisboa fazia a apresentação dos cinco jornalistas que iria destacar para acompanharem as campanhas das principais formações políticas. Logo a ordem como as apresentava, esquecendo a representatividade parlamentar, assemelhava-se a um endosso: começava pelo PS (que fora o partido mais votado e que obtivera 107 lugares nas eleições de 1976), passava para o PCP à sua esquerda (40 lugares), guinava à direita com a AD (coligação entre o PSD e o CDS, com 73 + 42 lugares e as segunda e terceira maiores representações parlamentares), para guinar outra vez para a extrema esquerda, onde se situava a quarta e penúltima formação que iria ser acompanhada por um jornalista do DL, a UDP (com 1 único deputado). Fora desta lógica ilógica dos partidos com representação parlamentar, aparecia a UEDS, uma formação política recente, constituída por dissidentes de esquerda do PS, que o jornal considerara merecedor de uma atenção especial, apesar de ela nunca ter sido submetida a votos. Mais do que isso: nas páginas interiores daquela mesma edição, multiplicavam-se as notícias sobre iniciativas da, e patrocínios à, UEDS. Como então era assaz comum, circulava até um manifesto de apoio àquela formação em que os que o assinavam eram para ser todos considerados intelectuais. Quarenta anos passados, muitos desses subscritores já faleceram mas podem-se ali encontrar nomes da esquerda chique que ainda nos são familiares de outras esquerdas chiques, como é o caso de Boaventura Sousa Santos. Foi uma aposta jornalística deste jornal (mas não só, já que foi acompanhada por muita da opinião publicada) que não vingou: no dia da verdade a UEDS recolheu uns parcos 43.300 votos (0,7%). Desnecessário dizer que não elegeu nenhum deputado. O eleitorado concedeu uma humilhação final ao faro político dos entendidos (ainda não havia politólogos...) ao darem votações superiores a duas formações políticas com quem eles não engraçavam nada, o PDC de extrema-direita (72.500 votos - 1,2%) e o MRPP de extrema-extrema-esquerda (53.300 votos - 0,9%). Ainda havia que esperar mais 20 anos para que a esquerda chique (e de que os jornalistas gostassem...) entrasse no parlamento.
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