24 de Novembro de 1989. Em Praga, falho de qualquer simpatia popular mas também do tradicional apoio de Moscovo, o presidium do partido comunista checoslovaco, que era encabeçado desde há 2 anos por Miloš Jakeš, demite-se. Está em curso na Checoslováquia aquela que virá a ser denominada por Revolução de Veludo (sametová revoluce). Mas isso são acontecimentos razoavelmente conhecidos. O que me parece interessante recordar, porque o é bastante menos, é a forma como esses acontecimentos era acompanhados pelos jornais comunistas de então. Na edição desse mesmo dia 24 de Novembro de 1989 o Diário de Lisboa ainda guardava para a primeira página a ameaça velada da intervenção dos militares checos: «Oficiais superiores do Exército checoslovaco fizeram sentir a sua voz, lançando um aviso ameaçador contra as manifestações favoráveis à liberalização do regime.» O espantoso é que o jornal, sempre tão pronto a condenar putschs militares por todo esse Mundo fora, neste caso nada dizia de condenatório a respeito da voz dos militares e desta maneira um pouco cardada demais de eles - os generais - quererem fazer ouvir a voz da classe operária... Mas a edição do dia seguinte do mesmo jornal (abaixo) fazia uma inflexão de 180º no que publicara, e aderia de forma entusiástica ao facto de haver «um moderado na liderança de Praga», um moderado que ontem ninguém fazia a mínima ideia quem era... e que iria durar cinco dias no cargo. Era a propriedade do poder pelos comunistas que estava em causa naquelas paragens por aqueles dias. E porque por cá os seus camaradas ainda não o haviam compreendido, chegava a ser ridículo argumentar em prol destes vários regimes comunistas no Outono de 1989.
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