05 novembro 2019

A PURGA DA CÚPULA DA FRELIMO

5 de Novembro de 1969. Uma das páginas com o noticiário internacional desse dia mostrava uma notícia oriunda de um local de que não era muito frequente falar-se, nas publicações portuguesas: Dar-es-Salam, capital da Tanzânia, cidade onde se instalara a cúpula da FRELIMO, a organização nacionalista moçambicana que combatia desde 1964 a presença portuguesa em Moçambique. As notícias oriundas da capital do país vizinho davam conta do clímax das disputas internas naquela organização depois do assassinato - uma encomenda armadilhada, muito provavelmente enviada pelos serviços secretos portugueses - de Eduardo Mondlane, o dirigente máximo da organização até Fevereiro daquele ano. A conclusão da disputa - e havia alguma volúpia na forma como o assunto era noticiado pela parte portuguesa - anunciava-se sangrenta - e para isso não fora preciso a contribuição da PIDE. A facção derrotada e o seu líder Uria Simango necessitara de se acolher à protecção da polícia tanzaniana, por receio do que lhe pudesse acontecer às mãos da própria organização, que agora passara a ser liderada pela dupla Samora Machel (ala militar) e Marcelino dos Santos (ala política). Quanto ao futuro, ele virá comprovar quanto os receios de Uria Simango eram fundamentados. Numa data imprecisa entre 1977 e 1980, Uria Simango irá desaparecer, algures no Niassa, onde estava detido num campo de reeducação. As histórias das lutas internas das organização nacionalistas africanas que lutaram contra o colonialismo português são tão sórdidas quanto as lutas de gangues.

Sem comentários:

Enviar um comentário