Percebe-se e até se aceita porque é que entre as elites locais se troça da desenvoltura como Marcelo Rebelo de Sousa apresenta livros no seu programa de Domingo, manejando-os (e costumam ser tantos!...) com uma perícia tal que, aos mais imaginativos, o malabarismo poderá fazer lembrar o sketch do cozinheiro sueco dos Marretas, mais a sua famosa receita das almondegas (abaixo), e imaginar Marcelo armado em discóbolo, a atirá-los, aos livros, em voo planado pelo estúdio da TVI fora, após lhes ler título e autor...
Mas o pecado de Marcelo - que já se deixou de fingir ter lido os livros que nomeia - é ser superficial e histriónico em excesso. Sobre livros e leituras convencionou-se que há que mostrar um exibicionismo ponderado, mascarado de uma certa contenção. Também é ridículo, mas, ao menos, é-o discretamente. Socorrendo-me de dois exemplos aparecidos nos últimos dias, num dos casos, que encontrei no Público, Miguel Esteves Cardoso admite casualmente ser normal ler um livro de 300 páginas numa tarde – Nothing is true and Everything is Possible: Adventures in Modern Russia de Peter Pomerantsev. Eu não consigo ou, pelo menos, não tenho coragem para chamar àquilo leitura... Noutro caso, no Observador, é Vítor Gaspar que nos informa estar a ler simultaneamente três livros.
E que três livros!: Irrational Exuberance de Robert Shiller, Hall of Mirrors de Barry Eichengreen e When the Facts Change de Tony Judt. A situação faz-me lembrar um daqueles grandes mestres de xadrez a disputar simultâneas. Na verdade, o texto de Vítor Gaspar refere-se exclusivamente ao primeiro dos livros nomeados mas reconheça-se que há um efeito sinergético intelectual muito positivo provocado pela menção dos dois adicionais. Eu nunca me lembraria disso: faria cada recensão há medida que os fosse lendo. Vítor Gaspar, pelos vistos, consegue-os ler aos três ao mesmo tempo. Traço comum a todos os quatro livros: foram editados recentissimamente (num dos casos, uma reedição) e estão escritos em inglês. Quanto a esta última parte, isso (lê-los naquele idioma) será o único aspecto em que consigo acompanhar aqueles nossos dois vultos intelectuais...
E que três livros!: Irrational Exuberance de Robert Shiller, Hall of Mirrors de Barry Eichengreen e When the Facts Change de Tony Judt. A situação faz-me lembrar um daqueles grandes mestres de xadrez a disputar simultâneas. Na verdade, o texto de Vítor Gaspar refere-se exclusivamente ao primeiro dos livros nomeados mas reconheça-se que há um efeito sinergético intelectual muito positivo provocado pela menção dos dois adicionais. Eu nunca me lembraria disso: faria cada recensão há medida que os fosse lendo. Vítor Gaspar, pelos vistos, consegue-os ler aos três ao mesmo tempo. Traço comum a todos os quatro livros: foram editados recentissimamente (num dos casos, uma reedição) e estão escritos em inglês. Quanto a esta última parte, isso (lê-los naquele idioma) será o único aspecto em que consigo acompanhar aqueles nossos dois vultos intelectuais...
Talvez Vítor Gaspar se tenha inspirado em Gasparov (ou seria Kasparov?)...
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