07 fevereiro 2015

A QUEDA E REASCENSÃO DE ALFRIED KRUPP

(A) Krupp saúda o Führer
A propósito do axioma moderno que estabelece que os países endividados devem privatizar o que puderem privatizar, da recente decisão do governo grego de suspender a do porto do Pireu, da recente decisão do governo português em prosseguir com a da TAP, lembrei-me de uma das fases mais complicadas da história centenária da siderúrgica Krupp (hoje fundida na ThyssenKrupp). A Krupp contar-se-á, das grandes empresas de referência da Alemanha, entre aquelas que mais cumplicidades urdiram com os poderes do III Reich (1933-45). Cumplicidade que não era somente material, se consideradas as simpatias políticas de Alfried Krupp (1907-67), o herdeiro do colosso industrial, cujas regras de gestão e sucessão foram objecto até de uma lei específica, a Lex Krupp de Novembro de 1943.
Finda a guerra, a Krupp gozou do duvidoso privilégio de um julgamento específico contra a organização por crimes de guerra. Patrocinado pelos norte-americanos ele teve lugar em Nuremberga entre Novembro de 1947 e Julho de 1948. No banco dos réus sentavam-se os membros do conselho da administração e altos quadros do grupo, a começar pelo proprietário, Alfried Krupp, que recebeu a pena mais alta: 12 anos de prisão, para além da obrigatoriedade de alienar os seus bens. Como aconteceu com quase todas as sentenças proferidas naquelas circunstâncias, Alfried Krupp só cumpriu uma parte da pena (3 anos). Quanto à obrigatoriedade para que Krupp alienasse os seus bens, foi firmado um acordo em 1954 segundo o qual ser-lhe-ia concedido um prazo de cinco anos para que ele encontrasse compradores adequados para o seu império, avaliado nuns 6.000 milhões de dólares.
Será desnecessário explicar que, sendo raros, Alfried Krupp também não se terá mostrado muito diligente na busca desses potenciais interessados. No final da história, Alfried Krupp, que na perspectiva americana deixara de ser um nazi para se tornar numa pessoa respeitável – como se constata pela sua aparição na capa abaixo da revista Time de Agosto de 1957 – continuou na posse da herança porque, alegadamente, não havia interessados suficientemente ricos para a conseguir comprar. Na verdade tratava-se de uma ingenuidade só possível de contar nesses tempos, bastando lembrar que os (poucos) activos da Krupp que se situavam na Alemanha Oriental ou nas regiões da Alemanha que haviam sido anexadas pela Polónia em 1945 haviam sido simplesmente nacionalizados sem outra forma de processo...

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