A forma como foi coberta pela informação a cena do doente com hepatite C, ontem, na AR, acusando Paulo Macedo, fez-me lembrar a forma como também fora coberta a perseguição que os depositantes do BPP haviam feito a Teixeira dos Santos quando do colapso daquele banco. Neste último caso nunca terá ocorrido aos que se consideravam lesados confrontar os membros da administração do BPP (nomeadamente o seu presidente João Rendeiro) sobre o destino que eles haviam dado ao seu dinheiro, preferindo concentrar-se onde consideravam haver ainda hipóteses de o ir buscar: ao Estado, ao bolso dos contribuintes. Pior: nem lembrou à informação que acompanhava o caso descobrir esta outra perspectiva da história, que realçaria a hipocrisia das pretensas vítimas. No episódio de ontem, envolvendo o preço excessivo de um fármaco para a Hepatite C, o seu emprego racionado, e as pertinentíssimas reclamações de quem dele necessita, torna-se necessária uma leitura atenta das notícias para identificar o terceiro actor do drama, a farmacêutica que é responsável pela comercialização do tal fármaco, a Gilead. Além do seu nome não aparecer mencionado em destaque no cabeçalho das notícias (é geralmente referida como a farmacêutica), tão pouco se lêem nelas – provavelmente porque não lhe foi perguntado sequer – as explicações daquela multinacional para que, apesar de se ter mostrado tão cinicamente compassiva, tenha fixado um preço tão elevado para o fármaco que haja doentes que morrem por não ter meios para, quando em desespero, o pagarem do seu bolso. Como acontecera com João Rendeiro, também agora os activistas não se dispõem a ir com a comunicação social a tiracolo fazer reportagens para a porta da sede do outro culpado: Edifício Atrium Saldanha na praça homónima, 8º andar A e B. Escolhi um caso passado em que, o maior contraste com o actual, era o ministro envolvido ser do PS em vez do PSD, para demonstrar quanto estas manobras podem ser transversais ao espectro político mas precisam de contar sempre com a incompetência e/ou conivência da comunicação social - mas também os preconceitos e a superficialidade da maioria da opinião pública.
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