19 fevereiro 2015

O DR. DOXEY DESTE EXECUTIVO


Neste governo há ministros que mantêm uma imagem de competência mesmo estando agora consecutivamente debaixo de fogo (Paulo Macedo). Há outros que já tiveram tempo para se mostrarem suficientemente incompetentes, mas que continuam a escapar entre os pingos da chuva das críticas mais mordazes... e pertinentes (Poiares Maduro). Há aqueles sobre os quais nunca se suscitaram dúvidas sobre o seu desempenho, porque se sabia de antemão o quanto eram medíocres (Aguiar-Branco). Há ainda aqueles que dão mostras da mais elementar falta de bom senso quando colocados sob pressão (Teixeira da Cruz).
Porém, no fundo da escala, há os ministros que criaram uma imagem de seriedade tal que ela nos forja a confiança de que a eles nem nos atreveríamos a comprar um carro usado (era o caso de Miguel Relvas, será o caso de Pires de Lima). Ao ouvir-se o ministro da Economia ontem no parlamento (mais acima), fica-nos a convicção de que ele não saberá fazer a distinção entre ser-se do governo e ser-se da oposição à oposição. O que é que ele quer? É que um ministro não pode argumentar no mesmo estilo em que o fazia o blogue câmara corporativa quando Sócrates estava no poder.

Lendo o Observador de ontem (e conhecem-se as inclinações ideológicas do jornal, bem mais próximas do ministro do que do PS), em duas notícias publicadas apenas com uma hora de diferença, Pires de Lima recusa a ideia do PS de criar um fundo de capitalização para empresas endividadas para, aparentemente de seguida, renovar o apelo para que o PS reveja a posição sobre o IRC. Não tendo a espectacularidade televisiva de uma outra celebrada intervenção sua naquela mesma Casa (acima – ocasião em que se especulou sobre o conteúdo demasiadamente líquido do que almoçara),...
...a conjugação das duas respostas dadas ao maior partido da oposição na (mesma) sessão de ontem configura uma coerência dificilmente explicável: estaria ele, de facto, interessado em alcançar algum entendimento com o PS, ou tudo não passou de mise-en-scène? É que, as incoerências de Pires de Lima já se tornaram anedóticas: só mesmo ele para gabar, numa feira internacional de calçado, a excelência do calçado português, para depois ter de confessar que, naquele momento, até calçava sapatos de outra proveniência...
Pelo conteúdo do que anuncia, mas também pela exuberância como se exprime, Pires de Lima faz-me lembrar o Dr. Doxey (acima, à esquerda), uma coriácea personagem de uma das aventuras de Lucky Luke, um químico charlatão que fabricava e vendia elixires, aos quais atribuía as propriedades mais milagrosas. E que, quando necessário, adoptava uma técnicas de vendas muito... pró-activas. O trajecto político de Pires de Lima também tem sido muito pró-activo, especialmente quando se compara a sua actividade antes e depois de entrar para o governo em Julho de 2013.

Hoje já estará esquecida a sua moção de estratégia para o 25º Congresso do CDS que se iria realizar em Julho de 2013, e foi cancelado por causa da crise da demissão irreversível de Paulo Portas. É interessante recordar as notícias preparatórias que se faziam publicar antes, em Junho de 2013, quando ainda não se antecipavam as ondas de choque provocadas pela demissão de Vítor Gaspar e se prometia o fim progressivo do corte nos salários e nas pensões para dali a dois anos - ou seja, para 2015, o ano em curso. Quatro meses depois disso, entrado para o governo, Pires de Lima descobria estar a acontecer um milagre económico!...

Na sessão de ontem o tal de milagre económico desaparecera, a tal reposição de salários e pensões dentro de dois anos já estará completamente esquecida e bastou uma apresentação mais conseguida de uma deputada do Bloco de Esquerda com sucessivos gráficos de aspecto depressor para que - como dizer? - o elixir do Dr. Pires de Lima passasse a possuir outras virtualidades curativas. a culpa da taxa de crescimento do PIB ter sido de 0,9% e não os 2% que se ouvem reclamados na tal moção ainda é do PS...

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