13 janeiro 2011

O REFERENDO SOBRE O SUDÃO DO SUL

O Sudão (mapa acima), contando com uma área de 2,5 milhões de km², é o maior país africano. Essa dimensão foi consequência das necessidades da potência colonial que lhe traçou as fronteiras nos finais do Século XIX: o Reino Unido. Dominando então o Egipto e o Canal do Suez, os britânicos mostraram-se interessados em os defender conquistando as regiões meridionais do Nilo. O clímax dessa conquista foi a Batalha de Omdurman, perto de Cartum, em Setembro de 1898, um daqueles gloriosos episódios coloniais em que um pequeno contingente de soldados europeus derrota um enorme exército de nativos sofrendo muito poucas baixas mas provocando uma carnificina entre os segundos.
Porém, aquela que os britânicos consideravam ser a maior ameaça ao seu poder colonial era representada pelas ambições dos seus rivais franceses que entretanto se haviam instalado num forte em Fachoda (hoje Kodok), uma povoação sobre o Nilo que se encontra a 600 km para Sul da capital sudanesa Cartum. O encontro que ali teve lugar entre os dois comandantes (acima, Kitchener ao centro de costas e Marchand à direita) foi tão cortês quanto tenso. Mas os britânicos acabaram por vencer o braço de ferro diplomático que se seguiu. Só para outros o não fazerem, os britânicos obrigaram-se assim a anexar à sua colónia aquela região meridional que, para eles nem tinha particular interesse.
Desde sempre, mesmo pelos padrões africanos, se apercebeu que havia uma particular falta de coesão dentro do Sudão entre o Norte do país, predominante em população, que é uma região integrada nas culturas de influência muçulmana da África do Norte e o Sul, uma região típica da África negra subsaariana, animista ou cristã. É nesta última que, desde o dia 9 até ao próximo dia 15 de Janeiro está a decorrer um Referendo sobre a sua independência em relação ao Sudão. A notícia passa desapercebida, afogada entre as enchentes de Brisbane ou do Rio de Janeiro, mas ela é muito importante pelo impacto que pode vir a ter em alterações da ordem internacional, se do referendo resultar uma nova nação africana
aqui havia publicado um poste em que sugeria que o problema das independências para o Século XXI seria sobretudo, como neste caso do Sudão, uma questão de secessões nos países antigamente classificados do Terceiro Mundo. Praticamente todos os países africanos observam este Referendo com um olhar desaprovador. A regra de ouro da OUA de preservar as fronteiras herdadas do colonialismo foi um factor de estabilidade que serviu, entre outros, de suporte ideológico para o governo nigeriano abafar militarmente a secessão do Biafra. Ora esse seguro de vida das frágeis coesões nacionais dos países africanos pode desaparecer com este referendo, ao traçarem-se novas fronteiras internacionais no Sudão...

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