21 janeiro 2011

ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS

Vale a pena deixar escrito em antecipação que é muito improvável que as próximas eleições de Domingo possam alterar grande coisa, nomeadamente quem vai ser o ocupante do Palácio de Belém no próximo quinquénio. No regime democrático, parece já se ter desenvolvido uma tradição que os eleitos cumprem sempre os dois mandatos e que estas eleições intercalares não são para se disputar a sério, apenas para reconduzir o Presidente em exercício. Aliás, já o actual titular do cargo actuou segundo essa lógica, ao apresentar-se (e ser derrotado) em 1996 e prescindindo das intercalares de 2001, para só se reapresentar (e vencer) as eleições a sério que se seguiram, em 2006.

Olhando para trás, se a reeleição de Eanes em 1980 foi disputada por ter sido a primeira, já a de Soares em 1991 foi vencida por falta de comparência de uma personalidade credível de Direita e mesmo uma personalidade tão medíocre quanto Sampaio conseguiu desenvencilhar-se facilmente face a outra de igual jaez (Ferreira do Amaral) em 2001. Constatado este padrão e como Cavaco fez nesse último caso, é normal que as verdadeiras ambições para ocupar o cargo presidencial se guardem para as próximas eleições a sério em 2016. O que quer dizer que os nomes que leremos no boletim de voto no próximo Domingo não serão a nata dos portugueses que ambicionam ocupar o cargo¹
Por outro lado, as eleições presidenciais, podendo ser discutidas em uma ou duas voltas, têm a possibilidade de ser encaradas na primeira com a ligeireza de uma fase preliminar para a seriedade. É famoso o exemplo francês de 2002 (também uma reeleição…), em que a votação em candidatos que representavam agendas específicas (havia 16 candidatos no total, apenas um deles ficou abaixo de 1% dos votos) custou ao socialista Lionel Jospin a comparência na segunda volta em detrimento de Jean-Marie Le Pen. Ora esta eleição presidencial de 2011, sendo uma espécie de formalidade, presta-se a essas brincadeiras. E a grande revelação como brincalhão desta campanha é José Manuel Coelho

Excluída à partida a hipótese de considerar seriamente as candidaturas de Cavaco Silva ou de Manuel Alegre e posteriormente a de Fernando Nobre (que proposta é aquela dos 100 deputados²?...) cheguei à conclusão que o discurso que fazia mais sentido era, paradoxalmente, o da aparente falta de senso do candidato madeirense. Em Corrida para Oklahoma, uma história de BD de Lucky Luke, há uma candidatura de um idiota bem intencionado chamado Dopey (abaixo) que acaba por vencer as eleições. No nosso caso, nem Coelho é idiota, nem ele terá hipóteses de vencer as eleições, mas o cenário construído à volta delas também me suscita este voto visível de protesto.
¹ Havendo vontade política, esta questão das eleições intercalares pode ser resolvida eliminando a possibilidade do Presidente eleito se apresentar à reeleição. Colateralmente, isso também resolveria a questão, frequentemente discutida, da diferente conduta dos presidentes durante o seu primeiro (quando procuram a reeleição) e segundo mandatos.
² Em que países da União Europeia é que Fernando Nobre encontrou o rácio de um deputado para 100.000 habitantes? Não se terá ele esquecido que nesses países os Parlamentos são bicamerais e não unicamerais como o nosso?

2 comentários:

  1. A 2ª vitória de Cavaco demonstrará que batemos MESMO no fundo.
    Como não vai poder recandidatar-se, a partir daí, vai ser sempre a subir!

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  2. Nunca se pode dizer que se bateu no fundo. Enquanto o “mais infinito” é uma abstracção matemática, o “menos infinito” comporta-se como os limites da estupidez humana – é fácil de conceber concretamente.

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