04 setembro 2019

O SEQUESTRO DO EMBAIXADOR AMERICANO NO BRASIL

4 de Setembro de 1969. Uma organização de guerrilha urbana da extrema-esquerda brasileira, que se autodenominava MR-8, sequestra o embaixador americano naquele país. Pela sua libertação exigiam - e obtiveram - a libertação de 15 militantes políticos presos pelas autoridades. A operação teve uma repercussão mundial - podemos apreciar a capa do Los Angeles Times e também parte das notícias do Diário de Lisboa; repare-se que, neste último, o assunto aparecia na primeira página e havia desenvolvimentos nas páginas 8, 9 e 20. Constituiu um enorme embaraço para o regime militar brasileiro que, por sinal, na altura, estava atrapalhado com a escolha de um novo homem forte para o encabeçar, depois de um AVC que incapacitara totalmente o general Costa e Silva alguns dias antes. Mas a tróica militar que o substituíra foi célere a decidir-se a não arriscar a vida de um diplomata americano e a aceder às exigências dos sequestradores. Porém, a situação não deixava de apresentar alguns aspectos curiosos:
a) O sequestro tivera lugar no Rio de Janeiro, porque o embaixador americano ainda lá residia, mesmo nove anos depois de a capital brasileira se ter transferido para Brasília.
b) Ao contrário do que é comum entre os embaixadores americanos, Charles Burke Elbrick, o sequestrado, era um diplomata de carreira. Por sinal, já ocupara aquele mesmo posto de embaixador em Lisboa (1959-63), daí a explicação de algum interesse acrescido da imprensa portuguesa no episódio e na sua sorte.
c) O regime militar brasileiro nunca escondera um certo desdém pelo amadorismo das organizações de guerrilha urbana que o enfrentava. Neste caso, a asserção confirmava-se: tantas eras as infiltrações que as autoridades rapidamente localizaram o paradeiro do refém.
Só que os militares não quiseram correr riscos com um refém daqueles e seguiram as instruções dos raptores até ao fim. Os militantes foram colocados num avião militar que os levou até ao México e o embaixador foi libertado junto ao estádio do Maracanã, à saída de um jogo de futebol, para que os raptores se dissimulassem no meio da multidão. Era intenção do regime militar dar à opinião pública a impressão que o episódio não passara de uma espécie de seriado com um desfecho feliz e é esse o aspecto da capa abaixo do jornal O Globo de 8 de Setembro. O embaixador estivera 78 horas em cativeiro. Apesar do aspecto de final feliz, este não foi o fim da história. O sucesso da operação foi apenas o início de uma moda brasileira, depois latino-americana, de raptar diplomatas à troca da libertação de militantes presos. Nos meses que se seguiram o cônsul do Japão em São Paulo (Março de 1970) e os embaixadores da Alemanha Federal (Junho de 1970) e da Suíça (Dezembro de 1970) vieram também a ser raptados e permutados de igual modo.
A cena inicial é uma reconstituição feita para o filme O que é isso, companheiro? (1997)

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