22 de Setembro de 1979. Conforme se pode ler na Wikipedia: «O incidente de Vela, também conhecido como o "flash" do Atlântico Sul, foi um "flash" duplo de luz não identificado detectado por um satélite americano Vela em 22 de Setembro de 1979 perto das ilhas Prince Edward, no Sul do Oceano Índico. A causa do "flash" permanece oficialmente desconhecida e algumas informações sobre o evento continuam classificadas. Embora tenha sido sugerido que o sinal poderia ter sido causado por um meteorito atingindo a Terra, os 41 "flashes" duplos anteriores detectados pelos satélites Vela haviam sido causados por testes de armas nucleares (nota minha: embora tivesse sido precisamente para detectar testes nucleares que os satélites daquela classe haviam sido colocados em órbita*). Hoje, a maioria dos pesquisadores independentes acredita que o "flash" de 1979 foi causado por uma explosão nuclear - talvez um teste nuclear não declarado realizado conjuntamente pela África do Sul e por Israel.»
Na verdade, o painel de especialistas científicos que o NSC reuniu à época não conseguiu ser conclusivo quanto à origem do que o satélite detectara. No seu relatório de 23 de Maio de 1980 podia ler-se (no original): «although the Panel is not able to compute the likelihood of the September 22, 1979 event being a nuclear explosion, based on our experience in related scientific assessments, it is our collective judgment that the September 22 signal was probably not from a nuclear explosion.» Em contrapartida, um relatório concorrente, elaborado por um painel de membros dos serviços de informações era taxativo em concluir (mais uma vez, no original) que tinha: «...high confidence, after intense technical scrutiny of satellite data, that a low-yield atmospheric nuclear explosion occurred in the early morning hours of 22 September 1979.» É um daqueles casos em que as duas conclusões não devem ser sopesadas da mesma maneira. A comunidade das informações americana tinha que proteger "as suas costas", acautelando o worst-case scenario que era representado pelos eventuais sinais de proliferação nuclear que estariam ali a ser protagonizados por dois aliados mal comportados dos Estados Unidos: África do Sul e Israel.
E claro, caso se se tivesse tratado de um ensaio nuclear clandestino, o potencial de mistério de todo o acontecimento seria completamente outro! Constate-se que é a controvérsia baseada nisso e não os factos conhecidos que dão robustez à página da Wikipedia que é dedicada ao Incidente de Vela! Só que, por outro lado, passaram-se entretanto quarenta anos! O segredo da capacidade nuclear de Israel é hoje um segredo de polichinelo. Houve uma mudança de regime na África do Sul. Contudo, apesar de se ter a certeza que esse hipotético ensaio nuclear teria que ter contado com a colaboração de centenas de pessoas (a Operação Argus, realizada pelos Estados Unidos em paragens próximas 20 anos antes, contara com a participação de nove navios), nestes últimos quarentas anos não apareceu nem uma pessoa que fosse testemunha do hipotético ensaio nuclear. Um verdadeiro "síndrome de Área 51": o síndrome original mete extraterrestres e discos voadores desde há mais de 70 anos, mas, também aqui, a melhor explicação para o mistério é não haver mistério algum. Adenda: mas , pelos visto, isso não interessa nada ao Observador.
* E conhece-se aquele aforismo que estabelece que quem se equipa com um martelo tem tendência para abordar tudo com o que se depara pela frente como se fossem cabeças de prego...
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