24 setembro 2019

A SEXTA FEIRA NEGRA DE 1869

24 de Setembro de 1869. Tornou-se uma monotonia, que apenas acicata a confusão, este hábito de baptizar todos os pânicos da bolsa de Nova Iorque pelo dia da semana em que ocorreram sempre complementados do epíteto de negro. É por isso que é muito fácil confundir a Quinta Feira Negra (Black Thursday) de 24 de Outubro de 1929, com a Terça Feira Negra (Black Tuesday) de 29 de Outubro de 1929, e com a Segunda Feira Negra (Black Monday) de 19 de Outubro de 1987. Mas esta Sexta Feira Negra que precedeu a Grande Crise de 1929 em mais de 60 anos, pouco se terá assemelhado a esses outros dias negros da bolsa novaiorquina: em primeiro lugar porque o pânico se deu no mercado do ouro e não no de acções; em segundo lugar porque o que aconteceu há 150 anos foi deliberado e mesmo orquestrado por uma parelha de especuladores (Jay Gould e James Fisk). A fotografia acima, da ardósia onde se iam afixando as cotações do ouro na sessão em que o pânico teve lugar, ajuda a perceber, pela simplicidade dos registos, porque é que, nesses tempos, a manipulação das cotações (cornering the market) era muito mais fácil de conseguir do que actualmente, para mais quando, como acontecia com Gould e Fisk, se dispunha de informação privilegiada (insider trading). E o problema adicional na base destas manobras na fixação da cotação do ouro, que causaram uma crise bolsista, é que na origem da informação privilegiada de que os dois especuladores se socorriam estava o próprio presidente dos Estados Unidos, Ulysses Grant. À crise bolsista juntou-se a crise política. Daí o zelo como o assunto foi investigado por um comité do Congresso americano, que incluiu a preservação (documento único!) acima das anotações na ardósia de uma sessão bolsista de Nova Iorque de 1869, cotações essas que, em circunstâncias normais, teriam completamente apagadas e substituídas no dia seguinte. Quanto às sanções penais para os especuladores, e para quem esteja à espera do longo braço da justiça, esclareça-se que tanto Gould quanto Fisk se escaparam de punição legal. Fisk morreu assassinado por um rival num caso passional envolvendo chantagem, aos 36 anos: imaginando-o no século XXI e em Portugal, tinha o perfil ideal para dirigir um dos nossos clubes de futebol...

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