Se há defeito que os portugueses não podem ser acusados é o do Orgulho. Não estou a conceber muitos países europeus que se dispusessem a tolerar uma reinvestigação por parte de uma polícia estrangeira (britânica) como está a acontecer com o caso do desaparecimento de Madeleine McCann, para mais quando essa investigação está a ser a feita com um estardalhaço mediático tal que só pode insultar os anfitriões. Por acaso, emoções à parte, creio que a nossa atitude até será a atitude mais correcta de adoptar. Embora muito me surpreendesse se viesse a haver qualquer evolução substantiva no caso com estas iniciativas, é sempre salutar que exista um escrutínio público, uma espécie de controle de qualidade às capacidades de investigação das nossas polícias. No fim, resta esperar que, na eventualidade infeliz desta iniciativa nada produzir, as autoridades e a polícia britânica venham a dar mostras da uma humildade simétrica àquela por ora demonstrada pelas suas congéneres portuguesas...
Entretanto, quem já se animou ainda antes do aparecimento de notícias, foi o circo da informação: há uma nova versão sobre o desaparecimento da criança, há retratos-robot de uma pessoa misteriosa, há mesmo quem tenha sido detido por se ter gabado em privado de ter estado com a criança este Verão na Grécia, está prometido um programa televisivo em prime-time na BBC para o serão de hoje. Uma atitude colectiva tão tipicamente inglesa que já William Shakespeare lhe parece ter dedicado uma peça de teatro no Século XVI a que deu o título de Much Ado for Nothing (acima: Muito barulho para nada). Na verdade e por uma questão de equidade a respeito deste mesmo assunto que, recorde-se, já se arrasta há quase seis anos e meio e sempre com uma visibilidade mediática invejável, há uma pergunta que nos surge instintivamente e que não encontrei nem perguntada nem respondida no meio do barulho: além deste, quantos casos de crianças desaparecidas em Inglaterra existem por resolver desde Maio de 2007 para cá?...
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