Há quase precisamente 38 anos, a 5 de Abril de 1975, enquanto Jean-Paul Sartre se despedia de Portugal depois de uma visita que incluiu o RALIS, onde tomou contacto mais directo com o nosso PREC (acima), a União Soviética que tanto nos inspirava naqueles tempos lançava para o espaço mais uma nave Soyuz tripulada do seu programa espacial (abaixo). No entanto, à época nada se soube do acontecimento, porque a TASS, a agência noticiosa, não deu dele notícia como era costume acontecer com todos os voos espaciais tripulados. Só se soube depois (os pormenores só em 1983) que o voo fracassara, embora sem que tivesse havido felizmente danos pessoais a lamentar. Depois de uma descolagem sem incidentes, um pouco antes dos cinco minutos de voo, já a 145 km de altitude, quando da separação dos segundo e terceiro andares do foguetão, algo falhou nessa separação e o andar superior iniciou o funcionamento com o inferior ainda preso à estrutura, provocando o completo desequilíbrio (e a perda de trajectória) do conjunto. Mas numa questão de alguns segundos o sistema de orientação da Soyuz reagiu, desencadeando os procedimentos para que a missão abortasse. Mesmo assim, a inércia ascendente fez a cápsula atingir ainda um apogeu de 192 km de altitude.
Contudo, as perturbações do voo apontavam a cápsula directamente para a Terra quando da separação de emergência, o que fez com que a aceleração de 21,3 G experimentada pelos dois cosmonautas – a dupla veterana da Soyuz 12, Lazarev e Makarov (abaixo) – superasse os 15 G que haviam sido antecipados para aquela situação. Todavia, homens e material (este possivelmente por causa do famoso c.c. de toda a engenharia: coeficiente de cagaço...) superaram o teste, os paraquedas e retrofoguetes de travagem da cápsula funcionaram devidamente, assegurando uma longa descida de mais de 15 minutos. A cápsula chegou ao solo numa encosta íngreme, rebolou por uns 150 metros antes de se imobilizar segura pelo paraquedas preso na vegetação. O terreno estava ainda coberto de um metro de neve de Primavera e fazia frio (-7º C). Só que os cosmonautas não sabiam se tinham aterrado ainda na União Soviética, na benigna Mongólia ou na China hostil e por isso apressaram-se a queimar a sua documentação mais sensível. Os dois tripulantes vieram a ser recuperados no dia seguinte, oficialmente num local da Rússia Soviética. Demonstrando sobriedade e modéstia socialistas, a missão nunca recebeu número de série e foi apenas classificada como a anomalia de 5 de Abril.
Terá sido por isso que os dois cosmonautas viram depois recusados os tradicionais bónus de voo de 3.000 rublos, tendo, para os receber, de apelar directamente para Leonid Brejnev…
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