Creio que todos reconhecerão o identificativo da série acima, COPS, a TV realidade em todo o seu esplendor. Cá em casa acusam-me de ficar fascinado com ela cada vez que zappo e tropeço no canal que está a transmitir a série, porque por ali fico. Confesso que não resisto: começa pela violência das imagens da apresentação que termina com a hipocrisia de nos advertir que, mesmo depois de todas as polantices que nos são dadas observar, todos os suspeitos estão inocentes até serem considerados culpados por um tribunal. Milagres das montagens, os polícias são sempre bons e os civis são sempre maus, nunca nos é dado apreciar um episódio em que um polícia interpele um transeunte que depois de identificado, revistado, despido, imobilizado, se venha a revelar um pacífico cidadão, sem armas, sem drogas, apenas uma vítima de um excesso de zelo policial. Mas os meus episódios favoritos são aqueles em que a polícia planta uma viatura (um automóvel, uma bicicleta) passível de ser roubada numa zona problemática para depois deter os ladrões em flagrante. Estas provocações têm muito que se lhe diga quanto à moralidade da actividade policial – não era assim, pelo menos, que no meu tempo se brincava aos polícias e ladrões… – mas o estratagema aparece justificado repetidamente pelos agentes da lei como uma forma de retirar os malfeitores das ruas. Não sei se valeria a pena esclarecê-los que, como eles têm de ir para algum lado, os Estados Unidos têm, absoluta e relativamente, a maior população prisional do Mundo. Trata-se de um indicador de sucesso...
Mas o que importa para esta minha história é a atitude dos tais ladrões que respondem em conformidade ao estímulo policial. Os roubos são filmados por várias câmaras, tanto instaladas no local como ao longo das várias vias de fuga possíveis e mesmo internas, no caso dos automóveis. Para o espectador o roubo é evidente e parece não haver justificação possível. Mas não. Quase todos os ladrões, depois de apanhados em flagrante, arranjam uma história. Estúpida e inverosímil. Mas é expectável que o façam. O que se descobre graças a COPS é que, mesmo depois de informados que o acto foi todo filmado, eles continuam a tentar adaptar a sua história às novas circunstâncias. Torna-se confrangedor mas há que reconhecer que, naquelas circunstâncias, tentar perpetuar o absurdo parecerá valer mais do que reconhecer a verdade. Por comparação, suponho que os intervenientes em debates acesos nos blogues não se vejam envolvidos em situações emocionais tão extremas mas o comportamento de alguns em casos a que tenho assistido por essas caixas de comentários assemelha-se: quantos argumentos absurdos já li por aí desmontados por respostas evidentes que, supunha eu, deveriam ser o fim da conversa… mas não são.
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