A locução e os primeiros dois minutos e meio do vídeo acima seriam dispensáveis, mas o resto é precioso. As imagens são parte de um documentário intitulado Tratamento para os traidores e o momento mais interessante, perceptível apesar da sobreposição da locução off em inglês, é uma cerimónia de reintegração dos referidos traidores em Moçambique em 1982, que é presidida pelo próprio presidente Samora Moisés Machel acompanhado pelo vice-presidente Marcelino dos Santos. Cerimónias deste género vão-se inspirar às influências que o marxismo-leninismo de origem asiática exercia sobre a Frelimo, numa expressão de uma política que uma tradução rebuscadíssima qualificava de leniência por parte do partido para com os elementos marginais - ex-membros políticos ou militares proeminentes da época colonial portuguesa. É por causa dessa magnanimidade do partido que temos oportunidade de ouvir a bela voz de barítono de Samora Machel liderando o coro que agradece (Kanimambo!) em colectivo à Frelimo, depois de um processo de reabilitação que se adivinha longo: estava-se em 1982, sete anos depois da independência. Mas o mais pitoresco da cerimónia talvez seja a repetição dos slogans políticos iniciais, num número de vezes que se tornará excessiva para outras tradições: A Luta Continua! é continuada por quatro vezes e a Independência ou Morte! outras três adicionais, numa dinâmica de fazer lembrar o Momento Infantil do Tal Canal de Herman José (abaixo).
A entoação do coro até seria agradável e a figura de Machel risível, não fosse o sinistro totalitarismo que estas imagens deixam vislumbrar. E podemos adivinhar os tratos de polé que os "colaboracionistas traidores" sofreram até terem chegado àquele momento (os que conseguiram chegar)...
ResponderEliminarAs mesmas imagens têm, todavia, um pormenor curioso: a certa altura, já na sua parte final, permitem ver o fotógrafo Kok Nan sempre em cima do acontecimento.