As Guerras do Ópio são longínquas (1839-42 e 1856-60) e, sobretudo, tendo acontecido num enquadramento estratégico inverso ao actual, com uma Europa em ascensão e uma China a evidenciar o seu declínio, nem sequer se prestam a ser aproveitadas pelos especialistas nas suas explicações da situação estratégica existente. Quando comprei o livro acima, procurava uma explicação mais detalhada dos acontecimentos, especialmente no que se referisse às operações militares, que tentasse explicar como corpos expedicionários de uma vintena de milhares de homens conseguiram superiorizar-se e impor a sua vontade aos exércitos de um império multimilenar.
Nesse campo fiquei desapontado porque a autora trata o tema de um ponto de vista nocional, não apenas das guerras em si mas de como os poderes políticos chineses que se seguiram à dinastia Qing incorporaram no discurso e história oficiais uma vitimização face ao estrangeiro em consequência delas até aos dias de hoje. Sobre as operações militares a historiadora não acrescenta nada que me consiga fazer compreender as causas para os colapsos sucessivos dos dispositivos defensivos montados pelos chineses diante da artilharia dos navios e das investidas da infantaria anglo-indiana (e francesa, na Segunda Guerra). Os chineses nem sequer aprendiam com os erros?
Esta questão é tanto mais pertinente quanto a tradição do pensamento estratégico e militar na China remonta ao Século VI a.C., onde a personalidade mais famosa é Sun-Tzu (acima estão artigos de merchandising a si associados), mas foi uma constante no decurso da sua História, como por exemplo, o Wujing Zongyao, a que já me referi neste blogue, a pretexto da China da dinastia Song. Ora, se o conhecimento da estratégia nos pode fornecer algumas certezas, uma delas é que, havendo vontade política e capacidade de análise estratégica, o comando de um contingente de vinte mil soldados nunca teria sido capaz de impor-se aos dirigentes de um império de mais de 400 milhões de habitantes…
Se, para os ocidentais, Cortés havia demonstrado no Século XVI no México que estes impérios fortemente hierarquizados se podiam tornar extremamente vulneráveis quando se visava a sua cabeça (o topo da hierarquia), entre os chineses, havia quem tivesse escrito e explicado que, quando não se consegue derrotar tacticamente o inimigo – no caso, por causa da desigualdade da tecnologia militar – há que evitar os confrontos directos e só defrontá-lo indirectamente. Havia, entre quem rodeava os imperadores Daoguang (acima) e Xianfeng (abaixo), quem tivesse estudado durante décadas os clássicos (como Sun-Tzu). Mas, ou não haviam aprendido nada com isso ou não havia disposição para os escutar…
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