Já neste blogue me referi à Corrida Espacial especialmente à Corrida à Lua (acima), que os norte-americanos venceram por falta de comparência, embora eu já me tivesse entretido aqui a juntar os dois programas lunares como se a disputa tivesse chegado a ser ombro a ombro. Esse poste que então escrevi torna-se um bom princípio para introduzir ao leitor alguns aspectos técnicos essenciais para escrever o actual. Como se observa pela fotografia abaixo que de lá recuperei, os dois foguetões dos programas, o Saturno V norte-americano (à esquerda) e o N1 soviético, eram enormes e de dimensões muito semelhantes (110 e 106 metros de altura).
Havia porém uma diferença significativa nas características dos respectivos primeiros andares: enquanto o do foguetão norte-americano era equipado com cinco enormes motores F1 com 690 toneladas de potência cada, o foguetão soviético era equipado com nada menos de que trinta(!) motores NK-15 debitando 154 toneladas cada (abaixo). Fazendo contas, o primeiro andar dos soviéticos era cerca de um terço mais possante que o dos norte-americanos (154 x 30 = 4.620 e 5 x 690 = 3.450) mas tornava-se muito mais propenso a acidentes pois exigia-se que houvesse uma sincronização perfeita entre os trinta sistemas.
Simplificando a história que é necessariamente mais complexa, os desenvolvimentos do NK-15 que precisava de ser 100% fiável para que o N1 pudesse descolar só se concluíram quando a corrida para a Lua já fora definitivamente perdida e o modelo já se designava por NK-33. O N-1 nunca chegou a descolar com sucesso e entretanto a alteração das prioridades do programa espacial soviético fez com que se tivessem acumulado dezenas de motores NK-33 sem préstimo. Até ao fim da União Soviética. Nos anos 90, uma companhia privada norte-americana comprou (e a Rússia vendeu...) alguns desses motores, interessada em os continuar a desenvolver.
Há menos de duas semanas foi anunciado, com um espavento que não considerei inócuo ideologicamente, o lançamento inaugural por parte de uma empresa aeroespacial norte-americana denominada Orbital Sciences Corporation de um foguetão baptizado de Antares, mais um argumento em prol da privatização progressiva do negócio do espaço, um dos poucos ainda reservados a actores institucionais. Torna-se irónico identificar na ficha técnica deste novo sucesso da iniciativa privada um primeiro andar que é constituído (abaixo) por um par de evoluções dos velhinhos HK-33 socialistas e soviéticos dos tempos da Corrida à Lua…
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