19 abril 2013

A «PRIMAVERA GORBACHEVISTA»


Se nós por cá tivemos a primavera marcelista nos finais da década de sessenta, poder-se-á afirmar que os soviéticos terão tido a sua primavera gorbachevista nos finais da de oitenta. Exprimindo-se também através da televisão, qual espécie de zip-zip tardio, o espírito dessa primavera do marxismo-leninismo não se nota apenas no estilo musical do vídeo acima, que parece seguir a corrente techno então em moda no Ocidente capitalista (o conjunto denomina-se AliançaAльянс – e a canção Na Alvorada de 1987), também se nota na decoração e na coreografia (a dragona do vocalista ou os pins no casaco de cabedal do teclista – e desde quando é que se podia mostrar a marca Yamaha do sintetizador?...) ou ainda na realização televisiva, onde já se podia apontar a câmara para os espectadores presentes mostrando-os agora a reagir (ou não…) em directo, sem as imagens da assistência comportada que eram cuidadosamente intercalados nos discursos de Stalin ou de Brejnev. Podia-se confundi-lo até com um programa televisivo contemporâneo da RTP apresentado pelo sempiterno Júlio Isidro. O desfecho dos dois regimes que se pretenderam reformar nestas primaveras tardias foi o mesmo e foi um fracasso. Mas o maior absurdo de toda esta história é quem ainda actualmente as culpa, às primaveras, pelas insuficiências congénitas dos dois regimes que colapsaram perante as dificuldades.

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