Como numa fábula de Esopo, há muitos, muitos anos uma baleia morreu e veio dar à costa numa praia norte-americana do Oregon. As autoridades locais não tinham ideia sobre o que fazer para remover rapidamente aquelas toneladas de carne mal cheirosa. Foi encarregue do assunto um engenheiro da divisão de estradas chamado George Thornton, que aparece no vídeo abaixo apropriadamente envergando capacete. A ideia dele foi abordar a baleia como se se tratasse de um daqueles calhaus enormes que perturba a construção de estradas, um matacão. Mas, como ele próprio confessa no vídeo (profeticamente…), o engenheiro não fazia ideia da quantidade apropriada de explosivos para remover aquela… coisa: é a expressão que ele emprega, também profeticamente. Era sua esperança que depois a natureza, corporizada por gaivotas, caranguejos e outros necrófagos, se alimentasse dos pequenos pedaços de carne e gordura em decomposição da baleia encarregando-se de a fazer desaparecer até ao esqueleto.
O vídeo de cima, que já atraiu milhões de visitantes ao You Tube, só começa a ter piada a partir da explosão, quando os restos de baleia, em pedaços de dimensão muito variável (e que se adivinham particularmente mal cheirosos) começam a chover por todo o lado, tanto em cima da assistência como dos próprios repórteres de TV que a filmam… A reportagem termina com uma retroescavadora iniciando os trabalhos para o enterro do que restava (a maior parte) da carcaça da baleia (a solução inicial mais simples que fora depois descartada) e uma conclusão filosófica sobre o que se aprendera com a experiência: o que fazer e sobretudo o que não se deve fazer. Embora aqui a baleia, ao contrário das outras fábulas de Esopo onde os animais falam, acabe por não dizer grande coisa, esta é uma história didáctica que nos ensina quanto é necessário ser-se sabiamente multidisciplinar nos conhecimentos e cauteloso quanto às consequências quando se pretende recorrer a tratamentos de choque e não se sabe a quantidade de explosivos a empregar…
Não será preciso um grande esforço de imaginação para associar este episódio a um outro que nos está a afectar, e comparar a esperança ignorante de George Thornton para que a natureza o ajudasse a acabar o seu trabalho de destruição da baleia com a subjacente à opinião expressada recentemente por Pedro Passos Coelho quando afirmou que a selecção natural das empresas que podem melhor sobreviver está feita. A natureza, no caso, pode ser o próprio, e o darwinismo, quando mal compreendido (acima), pode provocar disparates deste calibre. Porém, as lições da fábula da baleia explosiva não acabam com o vídeo: apesar dos resultados observáveis, passados alguns meses a divisão de estradas promoveu o engenheiro Thornton. Há 42 anos que ele mantém que a operação foi um sucesso, apenas se tornou um fracasso em termos de opinião pública por causa de uma cobertura mediática tendenciosa. Contudo, os procedimentos do departamento de parques do Oregon obrigam a que as baleias mortas sejam agora simplesmente enterradas…
Para quem não tenha feito o paralelo, esclareça-se que é possível antecipar para o futuro um Pedro Passos Coelho desprezado em Portugal, publicamente elogiado - sobretudo pela sua coragem! - pelos protagonistas da superestrutura daquilo que será a União Europeia da altura, e que defenderá pessoalmente a sua conduta até aos limiares do absurdo.
Para quem não tenha feito o paralelo, esclareça-se que é possível antecipar para o futuro um Pedro Passos Coelho desprezado em Portugal, publicamente elogiado - sobretudo pela sua coragem! - pelos protagonistas da superestrutura daquilo que será a União Europeia da altura, e que defenderá pessoalmente a sua conduta até aos limiares do absurdo.
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