Costuma dizer-se que tudo o que tem qualidade nunca passa de moda. Este sketch abaixo dos Monty Phyton já tem mais de 40 anos mas eu costumo revê-lo, a sério, com alguma frequência na nossa televisão. A evolução de então para cá desta caricatura foi tornar os entrevistadores, não propriamente mais preparados tecnicamente sobre o assunto que devem tratar, mas pessoalmente menos hostis com o entrevistado. E em alguns casos – estou a pensar no exemplo de Mário Crespo na SIC Notícias – essa pretensa empatia chega a tresandar incomodativamente a graxa…
Anfitrião (Eric Idle): Na semana passada assistiu-se no Royal Festival Hall à estreia de uma nova sinfonia de um dos mais importantes compositores modernos: Arthur “Dois Barracões” Jackson. Sr. Jackson…
Jackson (Terry Jones): Boa noite…
Eric Idle: Só um pequeno aparte para deixar isto esclarecido. Esta – como poderei dizer… – sua alcunha…
Terry Jones (agastado): Ah!... Pois…
Eric Idle: ...“Dois Barracões”. Como é que apareceu?
Terry Jones: Bem, não é coisa que eu incentive, mas há alguns amigos meus que me tratam por “Dois Barracões”.
Eric Idle: E tem realmente esses “Dois Barracões”?
Terry Jones: Não. Só tenho um. Sempre tive um, só que há uns anos disse que estava com vontade de ter outro e desde aí houve quem me passasse a tratar por ““Dois Barracões”.
Eric Idle: Apesar de só ter um?
Terry Jones (para atalhar conversa): É isso.
Eric Idle: E ainda está com vontade de comprar o segundo?
Terry Jones (impaciente): Não.
Eric Idle: Para se adequar à forma como é conhecido?
Terry Jones: Não.
Eric Idle: Estou a ver. Voltemos à sua sinfonia.
Terry Jones (aliviado): Ah, bom!
Eric Idle: Escreveu-a no barracão?
Terry Jones (ultrajado): Não!
Eric Idle: Então escreveu alguma das suas peças mais recentes nesse seu barracão?
Terry Jones: Não, nada disso. Trata-se de um vulgaríssimo barracão de jardim!
Eric Idle: Ah, estou a ver! E está a pensar em comprar um segundo barracão para o usar para escrever?
Terry Jones: Não. Não! Esta história do barracão não tem interesse nenhum. Os barracões não têm importância nenhuma. Há alguns amigos que me chamam “Dois Barracões” e é tudo. Eu queria que me fizesse perguntas acerca da música. Eu sou é compositor. Toda a gente me chateia com os barracões. Isto está a passar dos limites. Quero-me é ver livre do barracão. Estou farto dessa história.
Eric Idle (travesso): Era da maneira que passava a ser o Arthur “Sem Barracões” Jackson, ahn?
Terry Jones (assertivamente): Olhe, esqueça lá os barracões, está bem?
Eric Idle (subitamente austero): Sr. Jackson, desculpe lá, mas creio que deveríamos voltar ao tópico da sua sinfonia.
Terry Jones (apanhado de surpresa): O quê?
Eric Idle: Segundo sei, a sua sinfonia foi escrita para tímpanos e órgão...
(Uma fotografia de um barracão aparece no cenário por detrás de entrevistador e entrevistado)
Terry Jones (virando-se para trás): O que é que é aquilo?!
Eric Idle (fingindo-se desentendido): Aquilo o quê?
Terry Jones: É um barracão! Tirem já aquilo dali!
(O anfitrião faz um discreto sinal e a fotografia é substituída por uma de Jackson em pose)
Terry Jones (ressentido): …Assim está melhor.
Eric Idle: Segundo soube, já foi um entusiasta da observação de comboios…
Terry Jones: O quê?!
Eric Idle: Segundo soube, há uns trinta anos, foi um entusiasta da observação de comboios.
Terry Jones: E o que é que isso tem a ver com a porra da minha música?
John Cleese (entrando em cena): Está a ter problemas com ele?
Eric Idle: Sim, um bocado. (Olhando para Cleese). Meu Deus! É o homem que acabou de entrevistar Sir Edward Ross mesmo agora.
John Cleese: Exactamente. Nós os entrevistadores chegamos e sobramos para pessoas como vocês, “Dois Barracões”.
Eric Idle: Sim, faça por desaparecer na paisagem, “Dois Barracões”. Este estúdio não é suficiente para nós três.
Terry Jones: É pá, o que é que vocês estão a fazer? Parem lá com isso. (É expulso de cena)
John Cleese: Arranja o teu próprio programa cultural oh maricas!
Eric Idle: Foi... Arthur “Dois Barracões” Jackson.
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