Por causa da Páscoa, falemos da ilha do mesmo nome que tem um pouco mais de 160 km² e se localiza no Oceano Pacífico, num dos locais mais remotos do Mundo: a mais de 2.000 km de distância da região habitada mais próxima, a ilha de Pitcairn, e a mais de 3.500 km do continente mais próximo, a América do Sul, e das costas do Chile, país de que é dependência. Apesar de tudo isso, e de se estimar que a sua população jamais tenha ultrapassado os 15.000 habitantes, as suas estátuas de pedra em formato humano (acima), conhecidas por moai, são mundialmente famosas. Há quase 900 na ilha, e são os vestígios da época de apogeu da ilha. Como nunca se conseguiu decifrar o seu sistema de escrita, aquilo que se pode saber sobre a história da ilha de Páscoa vem das tradições orais e de fontes indirectas (datação por radiocarbono, análises de ADN, etc.). Mas apenas se podem adiantar hipóteses para as causas do colapso civilizacional e demográfico que fizeram com que a população se tivesse reduzido de 10 a 15.000 habitantes nos séculos anteriores para 2 a 3.000 no Século XVIII (1722), quando a ilha foi visitada pela primeira vez por europeus¹. As explicações mais plausíveis associam-se à sobre utilização dos recursos disponíveis, mas a maioria delas têm a correcção política de não querer aprofundar a forma violenta como os ilhéus entraram numa guerra civil sangrenta e prolongada por recursos que eram cada vez mais escassos (uma excepção: A History of Warfare, John Keegan, pp. 24-28), até ao colapso da civilização: não há moais erigidos depois de 1500. É por ter havido esse ambiente autodestrutivo e pela sua semelhança com o actual momento político português que me lembrei de dar o título irónico à fotografia inicial dos moais alinhados (de Michael Kenna) de O Elenco Governamental: é uma dúzia de estátuas impávidas a olhar para o que parece ser o colapso do país…
¹ A captura de escravos e as doenças trazidas pelos europeus viriam a reduzir a população local a um mínimo de 111 habitantes em meados do Século XIX (1877).
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