Nos anos que se seguiram a 1974 o problema do que fora realmente a vida sob a tenebrosa noite fascista não se punha porque, apesar da propaganda, todos tinham as suas memórias próprias, tanto as que queriam lembrar como também as que queriam esquecer. Contudo, escoaram-se 33 anos daquela mesma lengalenga ideológica até que séries televisivas como Conta-me como foi (2007) mostrassem a quem já não o conhecera que o Portugal de antes do 25 de Abril não fora uma distopia do passado (acima), ao jeito dos mundos imaginados de Huxley ou de Orwell. Não fora essa preocupação em continuar a dominar ideologicamente esse passado por parte de uma mesma geração e o livro Os Filhos do Zip-Zip abaixo perderia uma parte substancial da sua importância como relato documentado por exemplos de época daquele Portugal de 1968 a 1974. Mas assim, torna-se num livro tão informativo quanto interessante, que vale a pena ler por outras razões que não as nostálgicas. Parece-me ser mais do que tempo que essa tal geração – que hoje sofrerá de mais reumático do que uma famosa brigada de generais que foi apresentar cumprimentos a Marcello Caetano em Março de 1974 – respeite as opiniões das gerações que lhes sucederam: que opinam, por exemplo, que o mítico Maio de 68 não passou de uma inconsequente birra de meninos ou que depreciam o festival de Woodstock de 1969.
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