02 dezembro 2012

UMA DEMONSTRAÇÃO DAS VIRTUDES RELATIVAS DO TRABALHO ASSISTENCIAL

Hoje completam-se 32 anos que um esquadrão da morte salvadorenho, agindo sob instruções superiores (os mandantes nunca chegaram a ser devidamente identificados), torturou, violou e assassinou quatro freiras norte-americanas (fotografias acima¹) que realizavam trabalho assistencial em El Salvador. O país acabara de entrar numa verdadeira guerra civil (1979-1992), opondo o governo controlado pela oligarquia tradicional aos rebeldes armados de esquerda da FMLN mas tratou-se de um daqueles crimes extremos: pela violência desmesurada (violação e assassinato de freiras…), pelas repercussões (… norte-americanas…), pela inutilidade (…que poderiam ter sido expulsas do país) e pelas consequências adversas para quem o praticou: perante as quatro fotografias acima e sem dúvidas da origem dos autores², uma maioria da opinião pública norte-americana, que antes nem saberia onde se situava El Salvador (abaixo), com a simplicidade de faroeste que a caracteriza, passou a considerar que os governamentais salvadorenhos eram os maus daquele enredo.
Não considero arriscado especular que, ocorresse aquele episódio num país submetido a um regime latino-americano que os Estados Unidos considerassem hostil, o assassinato destas quatro freiras teria sido um pretexto perfeito para uma invasão militar norte-americana que o derrubasse. Mas não foi assim, pelo contrário, o regime aguentou-se ao longo dos treze anos de guerra civil muito por causa do apoio norte-americano. E foi também muito e apenas por causa da pressão norte-americana que os executantes dos assassinatos foram levados a tribunal e condenados a 30 anos de prisão em 1984. Os mandantes permaneceram incólumes. Vem a propósito evocar o aniversário associando-o à mistura entre a política e a actividade assistencial a pretexto das recentes declarações de Isabel Jonet. Disse-se então imensa coisa a favor e contra a própria e a actividade que desenvolve a organização que dirige que, tenho a certeza, bem poderiam ter ficado por dizer, bastava conhecer casos de uma disposição política diversa dos protagonistas, como este caso de El Salvador…  
¹ Da esquerda para a direita: Dorothy Kazel, Ita Ford, Jean Donovan e Maura Clarke.
² Oito meses antes, Óscar Romero, o arcebispo de San Salvador e a mais alta figura da hierarquia católica do país, fora assassinado por um outro esquadrão da morte.

1 comentário:

  1. Esse assassinato das freiras, assim como do Arcebispo Romero, são bem documentadas num dos primeiros filmes de Oliver Stone, "Salvador", que deve datar aí de 1985 (ou seja, os acontecimentos estavam frescos), com James Woods como protagonista, a interpretar um jornalistas que por lá andou nesses anos e que até era amigo de uma das freiras.

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