Hoje
completam-se 32 anos que um esquadrão da morte salvadorenho, agindo sob
instruções superiores (os mandantes nunca chegaram a ser devidamente
identificados), torturou, violou e assassinou quatro freiras norte-americanas
(fotografias acima¹) que realizavam trabalho assistencial em El Salvador. O país acabara de
entrar numa verdadeira guerra civil (1979-1992), opondo o governo controlado
pela oligarquia tradicional aos rebeldes armados de esquerda da FMLN mas tratou-se de um
daqueles crimes extremos: pela violência desmesurada (violação e assassinato de
freiras…), pelas repercussões (… norte-americanas…), pela inutilidade (…que poderiam
ter sido expulsas do país) e pelas consequências adversas para quem o praticou: perante
as quatro fotografias acima e sem dúvidas da origem dos autores², uma maioria
da opinião pública norte-americana, que antes nem saberia onde se situava El Salvador
(abaixo), com a simplicidade de faroeste que a caracteriza, passou a considerar
que os governamentais salvadorenhos eram os maus daquele enredo.
Não considero arriscado especular que, ocorresse aquele episódio num
país submetido a um regime latino-americano que os Estados Unidos considerassem
hostil, o assassinato destas quatro freiras teria sido um pretexto perfeito para
uma invasão militar norte-americana que o derrubasse. Mas não foi assim, pelo
contrário, o regime aguentou-se ao longo dos treze anos de guerra civil muito
por causa do apoio norte-americano. E foi também muito e apenas por causa da
pressão norte-americana que os executantes dos assassinatos foram levados a
tribunal e condenados a 30 anos de prisão em 1984. Os mandantes permaneceram
incólumes. Vem a propósito evocar o aniversário associando-o à mistura entre a política
e a actividade assistencial a pretexto das recentes declarações de Isabel Jonet.
Disse-se então imensa coisa a favor e contra a própria e a actividade que desenvolve a organização que dirige que, tenho
a certeza, bem poderiam ter ficado por dizer, bastava conhecer casos de uma disposição política diversa dos
protagonistas, como este caso de El Salvador…
¹ Da
esquerda para a direita: Dorothy Kazel, Ita Ford, Jean Donovan e Maura Clarke.
² Oito meses
antes, Óscar Romero, o arcebispo de San Salvador e a mais alta figura da hierarquia
católica do país, fora assassinado por um outro esquadrão da morte.
Esse assassinato das freiras, assim como do Arcebispo Romero, são bem documentadas num dos primeiros filmes de Oliver Stone, "Salvador", que deve datar aí de 1985 (ou seja, os acontecimentos estavam frescos), com James Woods como protagonista, a interpretar um jornalistas que por lá andou nesses anos e que até era amigo de uma das freiras.
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