03 dezembro 2012

UMA CENA DE TANGUY E LAVERDURE

Segundo as notícias dos jornais, dois pilotos da Força Aérea portuguesa tiveram direito esta madrugada a uma verdadeira cena como as protagonizadas por Tanguy e Laverdure, pilotos de ficção de uma série de BD já com 50 anos, depois também transposta para a televisão e cinema. O enredo ajusta-se que nem uma luva às histórias protagonizadas pelos dois heróis: aparece um avião misterioso que voa de noite e a muito baixa altitude evadindo-se aos radares e que, apesar de perseguido, subitamente desaparece deles tão misteriosamente quanto havia surgido. Para que o enredo se complete só falta que se descubra que a pista esteja camuflada numa anónima exploração agrícola e o avião escondido no celeiro e coberto de palha!...
Mais a sério, convém acrescentar que agora a motivação das organizações por detrás destas cenas aparenta ser muito mais transparente que as da ficção original: tráfico de droga. E que os dispositivos aéreos de defesa, com F-16 que voam a uma velocidade dupla ou tripla da dos aviões desconhecidos, não os podendo acompanhar, não são os meios mais adequados para a intercepção – a não ser que as instruções sejam para os abater de imediato caso os aviões adoptem atitudes evasivas. Corroborando a inconveniência desta assimetria, eu poderia ainda acrescentar que há uma aventura de Tanguy e Laverdure (apropriadamente baptizada de Pirates du Ciel) em que os autores os põem a voar em antigos Spitfires a hélice.
Mas prefiro evocar um outro episódio sobre essa desproporcionalidade e inadequação entre os meios e os fins a que se destinam, só que agora naval, quando o ministro da Defesa da época (Paulo Portas), esclarecendo a opinião pública quanto às missões e importância dos submarinos que tinham sido acabados de adquirir, nelas incluiu a sua utilidade no combate ao tráfico de droga… Aí tratar-se-ia de um embate entre a capacidade furtiva da rapidez das lanchas que costumam ser empregues nesse tráfico versus a da submersão do submarino que, à semelhança dos F-16 acima mencionados, também estaria limitado à opção única de torpedear e afundar as lanchas no caso de estas ensaiarem uma fuga…
Num e noutro caso creio que o emprego de helicópteros será mais eficaz mas isso é um leigo a escrever...

Sem comentários:

Enviar um comentário