Poderemos descobrir
muitas semelhanças entre Marcelo Rebelo de Sousa e José Pacheco Pereira. Têm quase
a mesma idade (há apenas 25 dias de diferença entre as respectivas datas de
nascimento!), cultivam o mesmo estilo de perfil intelectual e individualista, há
mais de 20 anos que militam no mesmo partido onde ambos geram uma ampla dose de
anticorpos (embora por causas diferentes, nunca haverá no PSD marcelistas nem
pachequistas) e têm uma enorme dificuldade em esconder egos intermináveis. E
ambos são estrelas mediáticas que se têm mantido consistentemente nesse
desgastante firmamento – embora para audiências distintas. Mas há uma passagem
da recente biografia de Marcelo Rebelo de Sousa escrita por Vítor Matos que evidencia
a fenda de uma profundidade geológica que os separa:
Escreve-se sobre as candidaturas antes das autárquicas de 1997. (…) Sem se pronunciar, o líder do
PSD (Marcelo Rebelo de Sousa) tentava
prolongar a agonia do ex-presidente do Sporting (Pedro Santana Lopes), a pensar que, com tantas hipóteses em cima
da mesa, acabaria por não escolher nenhuma. «Até que o Pacheco Pereira, com
aquela falta de sentido político que sempre o caracteriza, decidiu estragar
tudo, e decide vetá-lo para Sintra. Foi uma asneira monumental», diz Marcelo. O
líder da distrital de Lisboa impediu que um dos seus ódios de estimação
concorresse a uma eleição onde era difícil vencer. Na perspectiva de Marcelo,
era fazer de Santana uma vítima e atirá-lo para uma Câmara mais fácil. Foi o
que aconteceu.(...)
In Marcelo Rebelo de Sousa de
Vítor Matos (p. 550)
A passagem tem o
requinte de conter uma citação em discurso directo expondo a obtusidade em que
Marcelo Rebelo de Sousa tem José Pacheco Pereira. É difícil ultrapassar
a acusação que um político se caracteriza por uma permanente falta de
sentido político. Porém, ao contrário de muitos dos outros rivais/inimigos de Marcelo
Rebelo de Sousa, deduz-se que José Pacheco Pereira não tem quaisquer complexos de
índole intelectual em relação a ele e à sua tão propalada inteligência. Para ele,
terá sido com frontalidade, por um entendimento da ética diverso do de
Marcelo que não se dispôs a armadilhar a candidatura de Pedro Santana Lopes por Sintra. Mais, é muito provável que José Pacheco Pereira manifeste um desprezo
incomensurável por tal tipo de manobras. Há uma falha tectónica a separar aquelas duas vedetas mediáticas.
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