Entre os três símbolos tradicionais da sua identidade, embora possam mudar de chefe de estado com alguma regularidade (o que aliás é considerado saudavelmente democrático... em regimes republicanos), os países tendem a ser extremamente conservadores quanto às suas bandeiras e hinos. Por isso, não deixa de ser interessante contar aqui a história de um país que se pode considerar relativamente jovem (cerca de 150 anos) e que já teve seis hinos ao longo da sua existência: a Roménia¹.
Os primórdios da formação da Roménia moderna são conhecidos mas torna-se controverso escolher uma data precisa para a sua constituição como país independente. Quando ainda não existia formalmente o reino da Roménia, o principado que o precedeu já dispunha desde 1862 de um hino intitulado a Marcha Triunfal, marcha essa para a qual não encontrei versão no You Tube.
O reino da Roménia foi constituído em 1881 com a coroação de Carol I e, apropriadamente, um hino novo foi criado em 1884, Trăiască Regele, uma apropriada exaltação monárquica porque o título traduz-se por um Viva o Rei. Embora a história da monarquia romena tenha sido anormalmente turbulenta², o hino manteve-se como um bastião até ao fim do regime monárquico em 1947.
Seguiu-se-lhe um hino que não durou muito tempo (1948-1953), naquele estilo puro e duro do bom velho estalinismo: Zdrobite cătuşe que se poderá traduzir por grilhetas esmagadas. Na verdade tudo parece esmagado: a melodia do hino é horrível, o ritmo martelado. Até o escudo da nova República Popular da Roménia, mais o seu tractor de três chaminés, é de um gosto duvidoso.
Será apenas uma coincidência, mas apropriada, que o ano da mudança do hino da Roménia tenha coincidido com o da morte de Estaline (1953). Nesta evolução, Te slăvim, Românie! (Glorificamos-te ó Roménia!), o novo hino romeno parecia dar mais enfâse à identidade nacional. Repare-se como, em simultâneo, o escudo nacional sofreu também algumas transformações.
Em 1965 a República Popular transformara-se na República Socialista da Roménia sob a égide de Nicolae Ceaușescu que, numa penúltima ruptura do país com o passado, mudou em 1977 o hino nacional para um ainda mais neutro Trei culori (Três Cores), numa referência à bandeira, ainda ao socialismo e comunismo, mas desaparecendo as menções a soviéticos ou a Lenine.
A Revolução de 1989, a deposição e execução de Ceaușescu, veio pôr fim ao regime comunista. Sintoma da instabilidade simbólica da nação romena, uma das imagens marcantes da revolução são as bandeiras esburacadas com o escudo nacional removido (abaixo). O hino nacional adoptado desde aí e que ainda hoje vigora intitula-se Deșteaptă-te, române! (Desperta romeno!).
¹ Para comparação, Portugal teve apenas dois hinos nacionais desde 1834.
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