11 setembro 2006

QUANDO A GEOGRAFIA FÍSICA ATRAPALHA A COESÃO NACIONAL – I


Há vários locais do Mundo em que a Geografia Física parece não estar de acordo com a Geografia Humana para a definição das fronteiras entre estados. Na Europa, um deles, que se tornou famoso por ter contribuído para o precipitar da 2ª Guerra Mundial, fica na Boémia (actual República Checa) onde a linha das alturas (algumas delas ultrapassando os 2.000 metros de altitude) sempre definira, por mais de dez séculos, a fronteira política entre os estados germânicos e o estado boémio, apesar das populações germanófonas habitarem os dois lados das encostas das cadeia montanhosas que definiam a fronteira.

Depois da 1ª Guerra Mundial e da constituição da Checoslováquia, as populações germanófonas do lado boémio, austríacas até então, passaram a constituir uma minoria germânica dentro de um estado de maioria eslava, os designados alemães dos Sudetas, que vieram a ser aproveitados por Adolfo Hitler em 1938 e 1939 como pretexto para a neutralização e posterior anexação da parte checa da Checoslováquia. Na ressaca de 1945, ali, como se fez no resto do Leste da Europa, o problema resolveu-se expulsando quem estivesse do lado errado da fronteira.

Estima-se que os deslocados naquele caso montaram a 2.850.000: 2.000.000 foram para a ex-RFA*, 700.000 para a ex-RDA* e 150.000 para a Áustria. Outros 150.000 permaneceram na Checoslováquia. Resolvido radicalmente o problema político da presença de uma espécie de quinta coluna germânica num país eslavo, ficou um outro por resolver, congelado durante a Guerra-Fria, mas transferido agora para o seio da União Europeia, entre a Alemanha e Áustria de um lado e a República Checa de outro: o pagamento das indemnizações – estimadas pelos expulsos em 130 mil milhões de euros.

* República Federal Alemã e República Democrática Alemã.

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