
O alinhamento estratégico de Portugal durante a Guerra-Fria, consequência da sua localização geográfica, fazia com que, mesmo depois do 25 de Abril, o
PCP fosse um partido que estava naturalmente isolado, pertencendo a um país da Europa ocidental mas com os seus aliados concentrados no Leste. Uma das formas encontradas para contrariar essa situação em termos de imagem era a promoção de
eventos intitulados
Comícios de Amizade envolvendo a presença de algum convidado destacado de um
partido irmão proeminente, conforme se pode apreciar nestes três cartazes.

Os cartazes aparecem por ordem cronológica. O comício com o secretário-geral do Partido Comunista Francês (
PCF) teve lugar em Novembro de 1974 e, como partido comunista de uma democracia ocidental, é certamente o
apoio mais aproximado dos três, antes das
controvérsias do eurocomunismo (1977) terem tornado os partidos dos países latinos do Sul da Europa ideologicamente
suspeitos. O
PCP teve que se virar para esse
farol ideológico que era o
PCUS da União Soviética (Maio de 1977) ou então para aquele
bastião da ortodoxia que era o
SED da Alemanha Oriental (Outubro de 1981).

Os cartazes mostram também a evolução estética ao longo desses sete anos. De uma simbologia e grafia mais primária associando a simbologia tradicional dos punhos cerrados, as foices e os martelos e as cores nacionais, o estilo parece encaminhar-se para uma maior sobriedade. E também para uma menor militância: os comícios passam do Pavilhão dos Desportos em Lisboa para a Casa da Cultura dos Trabalhadores da Quimigal no Barreiro... Mas, tão engraçado quanto os cartazes, vejam-se as fotografias daqueles que os partidos escolheram para os representar nos
Comícios de Amizade.

Aí, apesar da matriz ideológica comum a todos eles, percebia-se como a Europa estava culturalmente dividida por uma verdadeira
Cortina de Ferro. Acima,
Georges Marchais (1920-1997), que foi o secretário-geral do
PCF entre 1972 e 1994, era um político desenvolto, clássico, na tradição ocidental, habituado
a defrontar-se com uma informação que lhe era hostil. Mas os partidos comunistas que ocupavam o poder no Leste não podiam enviar representantes de igual
grandeza já que os dirigentes partidários do topo das suas hierarquias ocupavam também as funções principais do Estado.

Isso dava oportunidade a que os
apparatchiks sem proeminência como era o caso do russo
Vladimir Dolguikh (n. 1924 – e não Dolguih como, por lapso, aparece no cartaz) ou do alemão
Hermann Axen (1916-1992) aparecessem nos tais
Comícios de Amizade como se se tratasse de
camaradas muito importantes. As suas fotografias institucionais, transbordando
amizade e internacionalismo proletário (acima a do russo, abaixo a do alemão) possuem aquele
estilo neo-clássico marxista-leninista que ainda hoje deve deixar imensas
saudades na sede do
PCP na Soeiro Pereira Gomes…
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