
Ao contrário da subserviência excessiva de Amado Couto no seu livro ideologicamente compacto, Coccia não mostra respeito algum pelas autoridades do seu lado no conflito, o que o pode tornar, parecendo menos engajado, mais credível ao leitor. Contudo, tendo sido o seu livro escrito praticamente em cima dos acontecimentos (Couto escreveu o seu livro em 2010 tolerando-se mais a mistura dos factos com as lendas) tornam-se muito menos aceitáveis os erros factuais perpetrados pelo jornalista italiano. São suaves, ao correr da leitura, mas fortes. Pires Veloso, talvez pelo papel que veio a desempenhar depois no PREC em Portugal, aparece promovido precocemente a Coronel logo em Abril de 1974 (p. 52)...
À terceira é de vez que as peripécias de Giancarlo Coccia em Moçambique em 1974 merecerão a mesma credibilidade que as de Fernão Mendes Pinto na Ásia no Século XVI: são histórias de aventura porreiras mas desinteressamo-nos do que possa ser verdade. Neste caso percebe-se que o que é importante para o autor é a disputa ideológica que se travava em Moçambique e as suas aventuras servem como argumentos. Constate-se o facto de apenas uma meia dúzia das 65 fotografias do livro terem por tema a guerra colonial propriamente dita – das quais usei logo duas neste poste. 36 anos depois, estes dois livros comprovam que ainda se está bem longe de haver condições para uma análise equilibrada deste período da História de Moçambique.
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