03 agosto 2011

A APARÊNCIA E A SUBSTÂNCIA DE SE SER BRITÂNICO

Ainda a propósito da Batalha de Creta do poste anterior e da forma como os britânicos costumam escrever os livros de história militar das guerras em que participam, vale a pena traduzir e publicar aqui um parágrafo com a opinião contundente de uma famosa historiadora norte-americana, Barbara Tuchman (abaixo), com o qual concordo completamente:
Não há nenhuma nação que tenha produzido uma história militar com a nobreza verbal dos britânicos. Na retirada ou na progressão, na vitória ou na derrota, na asneira ou na bravura, na loucura mortífera ou na resolução inflexível, todos os episódios emergem igualmente revestidos de dignidade e de glória Todos os engajamentos são galantes e cada batalha torna-se uma acção decisiva. Não há economia nos superlativos: cada campanha produz um comandante ou um estilo de comando que é saudado como o mais brilhante da guerra. Todos são esplêndidos: os soldados mostram-se firmes, os comandantes mantêm o sangue-frio e a luta revela-se magnífica. Por maior que seja o fiasco nunca se perde o auto-domínio. Os erros, as falhas, a estupidez e outras causas para os fiascos misteriosamente desaparecem. Os desastres são narrados com cuidado e orgulho, transformando-se em coisas bonitas. As histórias oficiais registam tudo com um preciosismo infinito, mas o detalhe serve apenas para obscurecer o que aconteceu. Nunca se chega a perceber porque é que Singapura caiu ou como é que a Batalha de Sittang Bridge foi perdida. Os outros países bem tentaram, mas nunca conseguiram este nível de auto-estima. Não foi pela força, mas pelo poder da promoção da sua imagem que o Reino Unido dominou o mundo no seu século de oiro.

Resta acrescentar que o processo acima (tão bem) descrito é extensível a muitas outras actividades como, por exemplo, a desportiva. Foram os britânicos a criar, propagar e popularizar a expressão fair-play mas observem-nos abaixo, aos comentadores de televisão, a exibi-lo na prática, ao tal de fair-play, por ocasião dos comentários ao incidente entre Wayne Rooney e Cristiano Ronaldo no jogo entre Portugal e a Inglaterra do Mundial de Futebol de 2006… Não se vê diferença nenhuma, em parcialidade, para os paineleiros desportivos das nossas televisões.

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