19 agosto 2011

A LINHA MAGINOT

Ficará para uma outra ocasião falar de André Maginot (1877-1932), o homem que deu o nome à Linha (acima). Não fosse ela, e o nome do Ministro da Guerra francês de então (1929) ter-se-ia perdido no interior dos livros de História de França, assim como, daqui por umas décadas, será possível que, à semelhança da Linha Maginot, o par de Submarinos Portas perpetue na memória colectiva portuguesa o nome de um Ministro da Defesa de antanho… À falta de um mecanismo de câmbio que permitisse a comparação dos custos com as duas obras, pode afirmar-se com segurança que ambas significaram um enorme esforço financeiro para os respectivos países…
A Linha Maginot (o mapa acima pode ser ampliado, clicando-lhe em cima) foi edificada junto à fronteira Nordeste da França, nos territórios da Alsácia-Lorena que haviam sido reconquistados à Alemanha em 1919, na sequência da Primeira Guerra Mundial. Era composta por fortes de dimensão variável (havia 5 categorias), construídos de forma a beneficiar da disposição do terreno com os maiores apartados cerca de 15 km entre si, complementados por fortes auxiliares intercalados e ainda por mais 352 casamatas. Os fortes principais que, em caso de invasão, representariam a principal linha de resistência estavam situados, em média, a cerca de uns doze quilómetros da fronteira.
A Linha Maginot tornou-se um elemento precioso da propaganda francesa, tanto para o exterior (acima, uma visita do Rei Jorge VI em Dezembro de 1939, já se desencadeara a Segunda Guerra Mundial) como para a opinião pública interna. As fotografias francesas dessa época, apesar da censura militar, não se cansavam de mostrar as acomodações reservadas às guarnições da Linha Maginot. Nelas, os soldados apareciam a marchar em amplos corredores subterrâneos (abaixo), um pormenor dos mais de 100 km de túneis que haviam sido escavados para assegurar as comunicações entre as posições. Nas paredes podem ver-se cabos eléctricos e telefónicos e no chão – imagine-se! – carris...
A imagem de soldados deslocando-se para os seus postos empoleirados em pequenos comboios (abaixo) deve ter parecido um sonho para os veteranos da Primeira Guerra Mundial a quem elas se destinavam, que haviam feito inúmeras vezes percursos equivalentes nas trincheiras de ligação, a pé, debaixo do fogo da artilharia inimiga, sob chuva e sobre lama. Ali, via-se que os soldados das gerações seguintes poderiam combater abrigados, com água potável e alimentação quente e electricidade para os ventiladores e para aquecimento. Um luxo! O problema é que, assim como confortava a sua opinião pública, a Linha Maginot também iludia o próprio Estado-Maior francês…
A Linha Maginot podia ser um magnífico abrigo mas era também um instrumento de combate medíocre. A cultura que a sua edificação desencadeou no Exército subverteu uma lógica militar, velha de séculos, que estabelece que as fortificações servem para economizar efectivos e que, sempre que possível, devem ser guarnecidas por unidades de qualidade inferior. Não era o caso da Linha Maginot, onde foram instalados as últimas novidades da artilharia francesa, onde se ensaiavam as últimas teorias de combate de infantaria: os primeiros classificados de Saint-Cyr, a nata dos oficiais subalternos franceses já não queriam ser colocados na Legião (Estrangeira), mas antes no betão
Conhece-se a continuação da História da Linha Maginot, que não desempenhou nenhum papel na derrota da França em Maio e Junho de 1940. A sua construção serviu somente para excluir aquela região dos Teatros de Operações prováveis, já que os franceses, com aquele dispositivo, mostravam não ter a intenção de atacar a Alemanha a partir dali, enquanto os alemães assumiam que ali nunca conseguiriam obter o efeito surpresa que tanto precisavam e que alcançaram em Sedan. A derrota da França não se deveu à existência da Linha Maginot. Arrisco-me a escrever que é mesmo muito provável que a França fosse igualmente derrotada se não tivesse construído a Linha Maginot.
Porém, a Linha Maginot veio a tornar-se uma espécie de bode expiatório monumental dessa derrota de 1940, quando a explicação evidente é que, ao nível táctico e à época, não devia haver nenhum exército no Mundo que se conseguisse superiorizar ao alemão, facto que o orgulho francês se recusa a aceitar até aos dias de hoje. Esgotada a sua utilidade como instrumento de propaganda, a Linha Maginot tornou-se por sua vez uma curiosidade turística a ser visitada ainda em tempo de Guerra tanto pelos exércitos vencedores alemães de 1940 (abaixo, à esquerda), como pelos exércitos vencedores norte-americanos de 1944 (à direita).

2 comentários:

  1. Creio que a "linha Maginot" é o resultado do "fraquinho" dos franceses pelos fortes.
    Antes de Maginot já por lá tinha andado Vauban, a semear fortalezas à custa dos contribuintes de Luís XIV...

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  2. Continuando na sua linha de pensamento, não compreendo como é que o exército francês, com os meios de que dispunha, poderia fazer frente à "dupla" -Panzer/Stuka- que funcionava como um rolo compressor!
    Os "se" franceses, neste caso, são apenas anedotas.

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