03 agosto 2010

AINDA AS BARRICADAS…

Ainda a propósito da evolução do poder da rua tratado pelo poste anterior, vale a pena regressar ainda ao tema das barricadas que, apesar de se terem tornado cada vez mais obsoletas à medida que o combate entre autoridades e revoltosos se tornava mais assimétrico, mesmo assim continuaram a ser erigidas, mais por causa do seu significado político e pela sua capacidade de motivar os revolucionários (alguém mais cínico poderia utilizar a propósito a expressão terapia ocupacional…) do que pela sua verdadeira utilidade no combate urbano.
Para comparar com o daguerreótipo de 1848 do início, vejam-se agora mais três fotografias de barricadas em Paris em datas posteriores: de cima para baixo, na Comuna de Paris em 1871, na sua Libertação em 1944 e durante os acontecimentos de Maio de 1968. No primeiro caso, pode ver-se uma peça de artilharia defendendo a própria barricada, comprovando como as velhas tácticas de infantaria das revoluções de 1848 já haviam sido ultrapassadas. Na de 1944, nota-se uma atitude vigilante mas também de certa forma descontraída da sua guarnição.
Para perceber a evolução técnica que ocorrera e a superioridade dos ocupantes alemães face aos insurrectos da resistência francesa naquele momento diga-se que os primeiros contavam apenas com cerca de 20.000 efectivos (de onde uma esmagadora maioria deles eram administrativos) para controlar a região da Metrópole parisiense que rondava então os 4 milhões de habitantes. Mas, mesmo sendo tão poucos, possuíam 20 carros de combate e artilharia e eventualmente poderiam pedir o apoio da aviação, meios que a resistência não dispunha…
Nas sociedades modernas a construção de uma barricada veio a tornar-se num elemento mais decorativo do que útil. Não travaram os blindados em Budapeste nem em Praga e as de Paris em 1968 nem sólidas pareciam que a violência dos contestatários era propositadamente contida para não fornecer às autoridades pretextos para uma escalada. Na actualidade, abandonaram-se as barricadas quando se descobriu que, para bloquear uma ofensiva da autoridade, bastava apenas uma pessoa e algumas máquinas fotográficas em redor…

3 comentários:

  1. E, por vezes, nem é preciso a pessoa deitar-se na rua frente ao tanque, digo eu.

    :))

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  2. Uma síntese muito útil daquilo a que as chamadas convulsões sociais costumam produzir.Espero que não seja premonitória, portanto um aviso, embora se estejam a reunir todos os condimentos para o ser.
    LS.

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  3. Gostei muito do texto e mais ainda do seu blog! Tenho certeza que, a partir de agora, vou ser um leitor assíduo de suas matérias.

    Um abraço,

    Márcio.

    http://geografiaetal.blogspot.com/

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