30 agosto 2010

AS AMAZONAS RUSSAS

Toda a documentação e propaganda soviética da Segunda Guerra Mundial atribui uma enorme importância ao papel desempenhado pelas mulheres durante os quatro anos do conflito (1941-45). Estima-se em 500.000 o número de voluntárias que nele participaram nos quadros do Exército Vermelho, desempenhando as mais variadas funções, não apenas as de retaguarda como enfermeiras e condutoras, mas também em combate directo, pilotando aviões de caça ou como franco-atiradoras (abaixo).
Contudo, a Rússia já fora um país pioneiro no emprego de mulheres na frente de combate, e deve-o muito mais a razões de carácter cultural e antropológico do que a razões ideológicas. O aparecimento de mulheres combatentes antecede não só a Revolução de Outubro de 1917 que levou os bolcheviques ao poder, como estes últimos, quando o alcançaram, encararam durante os primeiros anos essas unidades femininas com enormes reservas, tendo mesmo desarticulado as unidades que encontraram.
Embora o Exército Imperial Russo não contasse oficialmente com mulheres quando do começo da Primeira Guerra Mundial em Agosto de 1914, sempre existira uma tradição milenar de mulheres guerreiras (que os Gregos da Antiguidade designaram por amazonas) nas regiões meridionais da Ucrânia e da Rússia. É por isso muito provável que, de forma anónima e/ou clandestina, houvesse algumas que integrassem os esquadrões de cavalaria dos famosos Regimentos de Cossacos.
Por outro lado, durante os três primeiros anos da Guerra (1914-17), houve quase 50.000 mulheres russas que se apresentaram para servir no Exército, embora apenas em funções auxiliares. Foi só com a Revolução de Fevereiro de 1917 que as novas autoridades russas – o Governo Provisório presidido por Alexandre Kerensky – decidiram criar as primeiras unidades combatentes femininas. Os seus objectivos principais eram o de fazer propaganda na retaguarda e, simultaneamente, moralizar as tropas da frente.
Comandadas por Maria Bochkareva (acima), o 1º Batalhão Russo Feminino da Morte estreou-se em combate em Julho de 1917, tendo-se saído bem (capturaram duzentos prisioneiros alemães…), mas não conseguindo aquele efeito galvanizador na moral do Exército que se esperaria do seu exemplo. Para esse fim, estas mulheres eram muito poucas e vieram demasiado tarde para conseguirem alterar aquele que era militarmente o desfecho mais previsível na Frente Leste: a desagregação do Exército Russo.
Por outro lado, politicamente, a existência das unidades femininas acabou por vir a ter um outro significado, quando um destacamento delas de Petrogrado (acima) foi mobilizado para defender o Palácio de Inverno (acima) do assalto (vitorioso) dos bolcheviques, quando da Revolução de Outubro de 1917. Fracassaram, mas foi assim que as mulheres guerreiras adquiriram a reputação de contra-revolucionárias e a antipatia dos bolcheviques… Significativa e simbolicamente, Maria Bochkareva morreu fuzilada por eles em 1920.

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