01 julho 2010

O RESPEITO DEVIDO À COCA-COLA COMPANY


O filme é Dr. Strangelove (1964) e a cena acima, de antologia, enquadra-se em poucas palavras: o Coronel Lionel Mandrake (Peter Sellers) precisa desesperadamente de contactar o Presidente norte-americano para tentar travar um ataque de bombardeiros equipados de armas nucleares que desencadeará o holocausto nuclear. Todas as comunicações da base estão cortadas… excepto as privadas. Mandrake tem que usar uma cabine telefónica mas não tem os trocos suficientes para fazer a ligação com Washington DC. Segue-se o diálogo (aos 2:50):
Cor. Mandrake: - Coronel… aquela máquina de Coca-Cola. Dispare para o cofre das moedas. Pode ser que haja trocos lá dentro.
Cor. Guano: - Mas aquilo é propriedade privada.
Cor. Mandrake: - Coronel! Consegue imaginar o que lhe vai acontecer à si, à sua carreira, à sua vida e a tudo o resto quando se aperceberem que obstruiu um telefonema para o Presidente dos Estados Unidos? Imagina? Rebente com aquilo! Dispare! Com a arma! É para isso que servem as balas, seu palerma!
Cor. Guano: - OK. Eu arranjo-lhe o dinheiro. Mas se não conseguir falar com o Presidente dos Estados Unidos, sabe o que é que lhe vai acontecer?
Cor. Mandrake: - O quê?
Cor. Guano: - Vai ter de responder perante a Coca-Cola Company.
Em 1964, este diálogo era uma ironia feroz demonstrativa da forma como os europeus avaliavam a promiscuidade entre poder político e económico da parte das grandes corporações norte-americanas. Em 2010, as piadas da cena devem ter passado de moda porque, num conflito entre um poder político soberano e uma companhia de telecomunicações privada, além de um clamor em prol do respeito da propriedade privada, chega a haver mesmo quem, estando ideologicamente muito próximo do primeiro, chame a atenção para as consequências do que a segunda pode fazer, por ela estar enraivecida pela desfeita

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