
Refiro-me, evidentemente, à descontracção de linguagem, nunca vista antes e também nunca mais vista na boca de um primeiro-ministro português.
Não ficou registado para a posterioridade o alegado bardamerda para o fascista, dirigido a alguém que classificava o primeiro-ministro de fascista, no espírito muito revolucionário mas pouco argumentativo daquela época. Mas o comentário, curto e grosso, inserido no espírito da época, soa como a expressão de uma certa saturação com tanto debate ideológico inconsequente.
O famoso bardamerda valeu a pena, nem que fosse para ver a figura ridícula dos comunistas e da malta da extrema-esquerda a mostrarem-se depois ofendidos e indignados, quais tias velhas solteironas, pelos excessos de linguagem – estes sim, verdadeiramente revolucionários – do primeiro-ministro.
Mas, mesmo assim, a televisão salvou monólogos preciosos de Pinheiro de Azevedo, que fluíam aproximadamente assim:
- Então senhor primeiro-ministro o que é que aconteceu?
- Eh pá, o que aconteceu foi que fui sequestrado e eu não gosto… Já é a segunda vez esta semana que sou sequestrado e é uma coisa que me chateia, pá! Não gosto de ser sequestrado!
Pode ver-se aqui.
Contudo, o momento de glória de Pinheiro de Azevedo ocorreu durante a manifestação de apoio ao VI Governo Provisório no Terreiro do Paço, promovida pelas forças moderadas (do PS para a direita…), a 9 de Novembro de 1975.
Só em Portugal é que alguém se iria lembrar de encarregar do policiamento da dita manifestação destacamentos de uma das unidades militares de Lisboa mais conotadas politicamente com a extrema-esquerda: a Polícia Militar, que se tornaria num dos últimos redutos revolucionários a resistir a 25 de Novembro de 1975
A manifestação e o discurso de Pinheiro de Azevedo, televisionados para todo o país, foram interrompidos por tiros seguidos do lançamento de granadas de gás lacrimogéneo por parte das forças de segurança, enquanto aquele tentava acalmar os ânimos:
- O Povo é sereno! É só fumaça!
Ao mesmo tempo, saltava linhas do discurso:
- Não quero deixar de terminar… É só fumaça!
Tentou-se apelar mesmo às palavras de ordem, muito motivadoras na época:
- Ninguém arreda pé! Ninguém arreda pé!
Os que gritavam com mais força eram os que estavam a aproveitar para se ir escapulindo pela Rua Augusta acima…
- É só fumaça!
Pinheiro de Azevedo acabou o discurso à pressa porque a fumaça, só, já invadia o balcão de onde discursava. Mário Soares e Sá Carneiro, a seu lado, já estavam de lenços no nariz…
Ao mesmo tempo, saltava linhas do discurso:
- Não quero deixar de terminar… É só fumaça!
Tentou-se apelar mesmo às palavras de ordem, muito motivadoras na época:
- Ninguém arreda pé! Ninguém arreda pé!
Os que gritavam com mais força eram os que estavam a aproveitar para se ir escapulindo pela Rua Augusta acima…
- É só fumaça!
Pinheiro de Azevedo acabou o discurso à pressa porque a fumaça, só, já invadia o balcão de onde discursava. Mário Soares e Sá Carneiro, a seu lado, já estavam de lenços no nariz…
Pode ver-se aqui.
Este episódio, entre o trágico e o cómico, ocorreu-me quando um sucessor longínquo de Pinheiro de Azevedo, ocupou uma boa parte da tarde a apresentar 333 medidas de simplificação administrativa de uma coisa chamada simplex.
Ora, não sendo sportinguista, a minha credibilidade em números cabalísticos acabou com as 5 garras para o leão, apresentadas já há muitos anos por Jorge Gonçalves…
Este episódio, entre o trágico e o cómico, ocorreu-me quando um sucessor longínquo de Pinheiro de Azevedo, ocupou uma boa parte da tarde a apresentar 333 medidas de simplificação administrativa de uma coisa chamada simplex.
Ora, não sendo sportinguista, a minha credibilidade em números cabalísticos acabou com as 5 garras para o leão, apresentadas já há muitos anos por Jorge Gonçalves…
Para não recorrer à outra expressão que deu notoriedade a Pinheiro de Azevedo: É só fumaça!
(*) Para os mais novos: Processo Revolucionário Em Curso.
Era o que se chamava "combater o fogo... com fogo", sem pruridos de linguagem, num exercício "Vicentino" que faz muita falta nestes tempos de carestia!
ResponderEliminarFoi-se a "barda"!!!