06 março 2006

«PANEN ET CIRCENSES»

Esta é uma daquelas locuções latinas quase de conhecimento obrigatório: pão e circo. Foi a forma escolhida por Juvenal, autor romano do século II, para censurar as ambições limitadas da população romana e a sua despreocupação quanto à forma como o processo político romano era conduzido.

Vivesse Juvenal em Portugal no século XXI e poderia substituir a sua famosa locução – passe a promoção publicitária – por uma outra: Jumbo e TVI. É evidente que todo e qualquer blogonauta (este autor incluído) se considera estar acima da discrição simplista feita outrora pelo famoso poeta satírico. Será?

Há uma fronteira cada vez mais fluida entre o circo, circo, e entretenimentos com pretensões mais elevadas mas que não passam de espectáculos de circo, outro circo. A distância não é assim tão grande entre um Fiel ou Infiel na TVI e um Eixo do Mal na SIC Notícias – a propósito, neste último, anda para lá um tipo, o director do Inimigo Público, a dizer e a defender as suas opiniões com senso, o que está a estragar todo o programa. Tem de ser corrido!

Mesmo aqui, na blogosfera, posso identificar uma dupla patriarcal que a tutela, um deles mais inclinado para a alimentação do espírito – José Pacheco Pereira – publicitando os seus Dez Mandamentos cá do burgo, numa pose maoista de Grande Educador da Classe Operária, que só não é estranha porque oriunda de um autor do blogue dos Estudos sobre o Comunismo (interessantíssimos…).

Verdadeiramente mais interessantes são as prosas do outro patriarca, o circense, Vasco Pulido Valente de pseudónimo, muito embora a vivacidade caracterísitca do seu estilo sacrifique muito à coerência do que produz. Se Pacheco Pereira pode ser considerado uma espécie de treinador de bancada, Pulido Valente é, acabado, um bobo de corte (duma grande corte, amplificada pelos sítios onde escreve), temido pelo que escreve mas inconsequente no que escreve. Guardem-se dez anos de crónicas suas - para quem tiver essa pachorra! - e leremos a crítica disso e, anos depois, o seu louvor.

Adaptando uma expressão que já li por várias vezes a vpv, entre a cópia (ele) e o original (Juvenal) prefiro este último, ainda que velhinho de 1.900 anos.