01 março 2006

À PORTA DO Nº 10

Salvo erro, terá sido Sir Alec Douglas-Home, um antigo e não muito notável Primeiro-Ministro britânico (1963-64), mas muito melhor como homem de espírito, que, diante do nº 10 de Downing Street, sua residência oficial da altura, encorajou um dia os jornalistas que ali se atravancavam a não desesperarem, manterem os bloco-notas e os microfones prontos, porque teria de haver um dia em que um político qualquer, em qualquer lado, precisamente naquelas circunstâncias, diante de uma chusma de jornalistas, iria dizer alguma coisa de importante…

É paradoxal que seja apenas na ausência de notícias glamorosas (muitas imagens, títulos gordos), como aconteceu hoje, pelo menos até à altura em que escrevo (nada impede que, daqui a minutos, um avião tenha um acidente à aterragem em Espanha e aí o alinhamento das notícias estandartiza-se…) que os diversos órgãos de informação se tornem deveras pluralistas no alinhamento das notícias.

Cada qual tem que fazer pela vida, puxar pela imaginação, mostrar todo o potencial do seu quadro de jornalistas. Imagine-se que o Público de hoje até dedica 3-páginas-3 (por sinal muito bem feitas) à análise do significado da visita de George W. Bush à Índia!...

Isto é que é fazer jornalismo educativo! Falando sério, em saudação à classe profissional dos jornalistas, isto de ter de encher 40 páginas ou 30 minutos sem ajuda, quando a atenção das agências internacionais se tende a concentrar nuns maduros mascarados que se meneiam, ao mesmo tempo que fingem estar alegres, não deve ser, decididamente, tarefa fácil…

Mas convém ter sempre presente um corolário dessa característica do jornalismo: o que é verdadeiramente importante para a sociedade nem sempre o é para a comunicação social e aquilo a que a comunicação social pode querer atribuir grande importância pode afinal não ter nenhuma.

Vejam a relevância que a segurança aérea tenderia a assumir, subitamente, se o tal avião aterrasse mal lá em Espanha…