23 março 2006

MATEMÁTICAS

Foi por um punhado de vezes que ouvi a pessoas de formação jurídica a citação de um comentário atribuído a Marcelo Caetano, sobre a irrelevância das estatísticas, citando o exemplo do rico que comia o frango, o pobre não, o que daria meio frango a cada um.

Não sendo um exemplo inteligente – a inteligência de Marcelo Caetano residiria noutros domínios, com certeza – é um exemplo simbólico da forma como se hierarquizaram, durante décadas, os saberes e a Cultura em Portugal.

A Cultura, sem dúvida por causa dos seus protagonistas, tendeu em assentar numa predominância desmesurada da componente humanística do saber. Santana Lopes foi exposto ao ridículo por ter inventado uns concertos de Chopin, mas arrisco dizer que não haveria a mesma troça se tivesse inventado mais um par de planetas imaginários ao Sistema Solar.

Ora, por muito petulantes e habilidosos que possam ser, os ignorantes são-no sempre, independentemente do campo do saber em que ela se manifeste. É tão escandalosamente embaraçoso haver licenciados em engenharia ou medicina que escrevem com erros de português como licenciados em história ou direito que não sabem fazer regras de três simples.

Felizmente, parece que os currículos mais recentes do secundário têm vindo a corrigir esta distorção. Aos alunos que pretendem seguir cursos nas áreas de humanidades é-lhes ministrada uma disciplina que dá pelo nome de Matemática Aplicada às Ciências Sociais (MACS). É fácil adivinhar que a disciplina deva ser um terror, pois são os velhos hábitos os que mais demoram a passar.

Mas é desejável que, a par dos engenheiros das gerações futuras que saibam distinguir o sujeito do predicado, os nossos juristas não fiquem confusos ao calcular quanto é metade de 1/6. Qualquer dos exemplos é indispensável a quem se considere como alguém com formação superior.

Ou, usando um exemplo concreto recente, evitar que se repitam episódios como o da ligeireza com que o Procurador-Geral da República afirmou em público que não fazia a mínima ideia do que era uma folha de cálculo de Excel, até ao aparecimento do caso do famigerado envelope 9.

Louvando-lhe a sinceridade, é um episódio lamentável pela ignorância, mas também pelo que pode demonstrar da (sua pouca) curiosidade intelectual e também pela falta de propensão para a evolução. Enfim, não foi lá muito brilhante.

2 comentários:

  1. Enfim, o procurador geral tambem nunca foi lá muito brilhante ;) não é de agora...

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  2. Tem toda a razão! Não EXCEL(A) em nada, excepto nas desculpas esfarrapadas!

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