17 janeiro 2006

VIVÁ MADONNA! VIVÓÓ!!!!!

Se os blogues da blogosfera fossem os canais da TV Cabo tenho que dar razão a Medeiros Ferreira nos Bichos-Carpinteiros: está tudo a dar política. Mas uma fracção apreciável dos canais da TV Cabo também andam a repetir ad nauseam o clip da Madonna.

Para desenjoar vou desenterrar outra história, velha, também do tempo da outra senhora, quando os Presidentes da República faziam publicitadíssimas viagens ao ultramar como forma de manifestação da soberania portuguesa sobre as colónias.

Às comissões de honra encarregues do acolhimento a sua excelência (os brancos) há que juntar os muitos populares (os negros) ao longo do trajecto que vinham de longínquas paragens manifestar-lhe o seu apreço.

Na prática, um soba, um régulo, um mais velho, ficava encarregue de soltar os vivas da praxe sob a supervisão artística discreta do administrador de posto. Acontece que dessa vez o mais velho era mesmo muito velho e lá se confundiu sobre o nome de presidente que era preciso gritar.

- Vivá Carmona! E a malta em uníssono: Vivóó!!!!!
E aproximava-se a comitiva com sua excelência, o Almirante Américo Thomaz… E o velho de novo:
- Vivá Carmona! Vivóó!!!!!

E o administrador de posto, a ver a sua carreira a andar para trás e a ser transferido para um rincão ainda mais perdido, aproxima-se do velho e murmura-lhe em surdina, de um jacto, irritadíssimo:
- Viva Tomás, seu filho da puta…
- Vivá Tomás, seu filho dá puta! Vivóó!!!!!
- Vivá Tomás, seu filho dá puta! Vivóó!!!!!*


Os tempos mudaram e, no mercado discográfico, os administradores de posto de outrora chamam-se agora produtores. E a medida do seu sucesso deve ser medida, não pelo entusiasmo dos vivóós, mas pelo número de vezes que se consegue passar uma música na rádio ou um clip na televisão.

Regressando ao início deste texto, ainda não tinha prestado a devida atenção ao verdadeiro massacre em que todo o processo se transforma depois da multiplicidade de canais da TV Cabo. Então até atinge um climax quanto ele é protagonizado por uma artista a quem eu atribuo tão pouco talento como Madonna, ainda para mais a cantar onde se notam adaptações de músicas dos Abba, velhas de 30 anos.

Tanta repetição do mesmo clip torna-o chato, muito chato, imensamente chato. É como se fossem Testemunhas de Jeová a bater-nos incessantemente à porta, mas como os canais são muitos e transmitem todos o mesmo, também houvesse ainda outras mais, às janelas, asinhas borboleantes, para nos falarem todas do reino de Deus…
* Esta parte mais colonialmente nostálgica era para dedicar a uma angolana branca que eu espero que não arme uma maca por causa disso...

1 comentário:

  1. Estou a ver que depois do Pepetela, do Agualusa, há em cada angolano um potencial contador de estórias escondido...
    Se maca...

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