30 janeiro 2006

O GRÃ-CRUZ

Deve ser uma das maiores ironias que os poderes políticos do mundo globalizado do início do século XXI se vejam a travar as mesmas batalhas que os seus antepassados do mundo globalizado do princípio do século XX.

O inimigo é o mesmo, o Capitalismo com C maiúsculo, o predomínio dos monopólios, a acumulação de riqueza em excesso numa minoria mínima. A separar os dois séculos, os ramos de actividade (do petróleo – Standard Oil – para a informática – Microsoft), a revolução russa e toneladas de literatura socialista e social-democrata pela redistribuição mais equitativa da riqueza, e possivelmente a personalidade dos protagonistas (de John D. Rockefeller para Bill Gates).

Não tem sido apenas a propaganda marxista a responsável pela caricaturização simplista dos capitalistas como esponjas insaciáveis de dinheiro; os apóstolos do liberalismo também a compartilham com os seus soglans de sonoridade evidente mas de expressividade duvidosa (o mais recente que ouvi é o da rentabilização dos activos, tão do agrado de António Carrapatoso).

Como acontece com muitos outros aspectos da economia, nem sempre o que é verdade na perspectiva micro assim se mantém na perspectiva macro. Suspeito que a partir de uma determinada quantia de riqueza pessoal, mais ou menos dinheiro não deve corresponder directamente à satisfação dos objectivos do seu proprietário.

Aliás, a lista dos mais ricos do Mundo, publicada anualmente na revista Forbes, seria um bocado distinta de uma lista hierarquizando a importância e o poder relativos dos mesmos. Por exemplo, Ted Turner, com a sua CNN, viria muito à frente do Sultão de Brunei, embora este último seja bastante mais rico.

O cabeça de lista (provavelmente das duas listas) Bill Gates, sendo porventura o homem mais bem sucedido desta ordem mundial tem demonstrado por várias vezes uma natural preocupação em preservá-la, mas compreendendo que ela precisa de ser reformada por se estar a tornar insustentável.

Nesse aspecto Bill Gates tem mostrado muito mais visão, quer do que os seus antecessores do século passado, quer do que contemporâneos que se podem julgar muito importantes mas que não passam de pigmeus (em mais do que um aspecto…) junto de si.

É o tipo de condecoração em que apetece felicitar todos os envolvidos, não apenas aquele que a recebe.

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