11 janeiro 2006

CUBITUS & Cia.

Um dos grandes problemas da teoria económica refere-se à forma de repartição dos custos dos bens e serviços públicos. Será que quem os paga é quem deles beneficia? Não sendo, há alguma preocupação social de redistribuição da riqueza no ciclo pagador-beneficiário? Enfim, perguntas e respostas sem fim para a resolução do problema, por exemplo, da minha quota-parte do pagamento da iluminação da minha rua ou da manutenção do jardim da esquina.

Mas há outros serviços públicos, proporcionados, muitas vezes involuntariamente, pela vizinhança, e que contribuem para a alegria de quem por ali mora. Podem ser as pernas bonitas de uma das vizinhas, um velhote baixinho com um andar patusco que mora ali ao lado, os lulus ridículos da velhota dali da frente ou os monólogos eloquentes e exuberantes do senhor que mora mais adiante.

Aqui pelas redondezas há um senhor que tem um enorme São Bernardo com o qual sai frequentemente a passear. De chapéu de feltro, grande, gordo, entroncado, a cara enfeitada por um bigode pujante a culminar suíças generosas, a cara do senhor parece-se um bom bocado com a do cão e o ar digno e plácido com que ambos se passeiam conjuntamente pode dar espaço a especulações.

Ainda hoje estou para descobrir quem é que é dono de quem ou se, alternativamente, os dois funcionam num regime cooperativo. O serviço público à comunidade é prestado pela bonomia e satisfação transmitida pela parelha a quem passa, que não pode deixar de se sorrir com a semelhança, quer fisionómica, quer de atitude, entre ambos. Enfim, é apenas um pequeno momento de felicidade a escapar às definições de qualquer teoria económica rebuscada.

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