
Depois havia o símbolo, onde uma enxada e uma chave-inglesa, com o significado dos operários e camponeses do costume, eram encimadas por um punho erguido fechado, segurando uma pseudo metralhadora estilizada que não se percebia bem como dispararia visto que não se via nenhum gatilho. Mas era uma ostentação do poder armado muito original, mesmo no Portugal de 1974.
Finalmente, outra originalidade era a liderança, conjunta, de Isabel do Carmo e Carlos Antunes, numa época em que a alternativa ao dirigente único tradicional eram os colectivos revolucionários. A atenção dada aos dois líderes era de tal forma excessiva que um cidadão comum nem conhecia mais nenhum membro do partido, o que levou ao aparecimento posterior de uma anedota, maldosa: ele era o PRP e ela a BR. Talvez não andasse muito longe da verdade.
Sabe-se hoje que muita da sua capacidade de influência vinha do facto de, durante o PREC, gravitarem na corte existente à volta de Otelo Saraiva de Carvalho. Mas o seu slogan a propósito das eleições constituintes (abaixo) continua poderoso: Não às eleições burguesas! Sim ao Poder popular! Contudo, faltava-lhe a imaginação, por exemplo, do Boicote activo à farsa eleitoral! usado pelo MRPP, também afastado daquelas eleições.

Deve ter sido uma das melhores cenas gagas do PREC, só possível porque se estava no PREC... Qual é a racionalidade de uma organização formada umas dúzias de militantes anunciar estrondosamente que uma parte deles pretende tornar-se clandestino, condição essa que requer a maior discricionariedade? Faziam-no porque, naquelas circunstâncias caóticas, ninguém (nenhum serviço de informações, entenda-se) estaria com pachorra para ir atrás dos clandestinos?
Este último episódio associou-se-me às desventuras que antecipo que alguns comentadores profissionais terão de defrontar por estes dias até ao rescaldo das eleições presidenciais.
Sendo Portugal um país onde todos esses comentadores têm simpatias políticas, mas onde não se quer romper a tradição de se endossar e de se comprometer com algum candidato (excepção feita ao exemplo de Francisco José Viegas, de saudar), é possível, senão provável, que uma grande maioria dos apoiantes inconfessados de Soares (António José Teixeira, Mário Bettencourt Resendes, Luis Osório,...) irão, nos próximos dias, fazer como as BR e passar por uns dias à clandestinidade…
Venho penitenciar-me...
ResponderEliminarAntónio José Teixeira e Mário Bettencourt Resendes atravessaram galhardamente todo o descalabro eleitoral de Soares.
As cenas tristes estiveram reservadas para os apoiantes confessados de Soares