11 janeiro 2006

¡¡AL SUELO!!

Vale a pena seguir o que se está a passar em Espanha, a propósito das atitudes e das consequentes sanções impostas a um general, Mena de seu nome, como consequência das declarações deste último a respeito da promulgação de um novo estatuto para a Catalunha.

A Espanha compartilha com Portugal e mais alguns países mediterrânicos (pense-se nomeadamente na Grécia e na Turquia) a característica de serem sociedades que têm fortes precedentes históricos da intervenções militares na política.

Se no caso dos dois países mais orientais, sobretudo por causa da sua rivalidade mútua, existem motivos evidentes para fundamentarem, perante a sociedade, o financiamento generoso do orçamento da defesa e o prestígio da instituição militar, no caso dos dois países peninsulares a evolução tem sido bem diferente, com o abaixamento progressivo dos problemas relacionados com a segurança e defesa nas prioridades nacionais.

De qualquer forma, ambos os países possuem um passado pesado no que concerne à intervenção de militares na actividade política. Atitudes e acções que, noutros países e circunstâncias, seriam de rejeitar, por impensáveis, são aqui passíveis de serem levadas muito a sério.

O problema para a classe dos militares, sobretudo as suas chefias, como em Portugal se tem visto repetidamente, é que o poder político já sabe como lidar com eles nessas circunstâncias: em linguagem de poker, o líder político paga para ver e a ameaça do chefe militar acaba sempre por se revelar um bluff. Neste caso, a melhor forma do Ministro da Defesa espanhol lidar com a situação é a de fechar o general em casa, ignorar o carnaval das declarações das associações dos militares na reserva e na reforma e dizer que no pasa nada.

Tenho dificuldade em imaginar chefes militares responsáveis que se arrisquem a ficar com o ónus de desencadear golpes de estados ou manobras militares que possam conduzir a guerras civis, dentro do quadro actual da União Europeia, por causas que nunca porão em causa, expressa e directamente, a existência dos estados que servem.

Por isso, por muito que me engane e por mais folclore que ainda haja, não antecipo nenhum outro tenente-coronel que entre subitamente por uma Câmara de Deputados para os mandar deitarem-se…

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